quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Pontuação - Questões discursivas com gabarito comentado





1. (Uff 2010)  Cacá Diegues desbrava o Brasil como os brasilianistas de outrora e mostra uma população alijada que tenta se manter entre a cultura tradicional – transmitida por seus antepassados – e a modernidade, que como um bandeirante entra nos mais longínquos rincões do Brasil. O eterno retorno e a interminável travessia resgatada, entre outros, por Euclides da Cunha emergem na obra de Diegues. O filme é uma forma contemporânea de denunciar o Brasil que conhecemos pouco.

(http://www.facasper.com.br/cultura/site/ensaio. Adaptação).

Texto III

“O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços do litoral. A sua aparência, entretanto, no primeiro lance de vista, revela o contrário. É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo é o homem permanentemente fatigado. Entretanto, toda essa aparência de cansaço ilude. No revés o homem transfigura-se e da figura vulgar do tabaréu canhestro reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias.”
Euclides da Cunha, Os sertões.

Texto IV


a) Caracterize os efeitos de sentido que a intertextualidade do Texto IV (aspectos verbais e não verbais) apresenta com o fragmento de Os sertões (Texto III).
b) Observe a diferença de pontuação entre “O sertanejo é, antes de tudo, um forte.” (Texto III) e “O sertanejo é antes de tudo um agitador!” (Texto IV) e comente os aspectos semântico-estilísticos na produção de sentidos nessas duas frases.


Resposta:

a) No texto de Drummond e Ziraldo, o sertanejo é ironicamente apresentado como um agitador, quando reivindica. É o aspecto não verbal (figuras esquálidas, caídas no chão, a criança “barrigudinha”, as marcas da seca no chão gretado, as mãos em desespero etc.) que enfatiza a ironia e passa a ressignificar o texto de Euclides da Cunha. Essa ironia faz uma crítica à ideologia do senso comum sobre os nordestinos de modo geral.
b) O emprego das vírgulas ao enfatizar a circunstância de tempo destaca, dentre outras, uma característica positiva do nordestino.
O emprego do ponto de exclamação confere à frase um tom de denúncia.



  
2. (Fgv 2009)  Leia o texto.

                        Amorim, pede pra sair

            O fracasso das negociações comerciais de Doha ecoa a falência verbal que levou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a entrar nas reuniões com o pé esquerdo e a sair delas com a autoridade destroçada por duas declarações de natureza intrinsecamente perversa.
            ("Veja", 06.08.2008)

a) Explique o título do texto, associando-o às informações apresentadas.
b) Se fosse retirada a vírgula do título do texto, haveria alteração de sentido? Justifique a sua resposta.


Resposta:

a) O título do texto remete ao filme "Tropa de Elite", que foi um fenômeno de popularidade em 2007.
No filme, sempre que o personagem Capitão Nascimento queria tirar do seu grupo um integrante incompetente, gritava: "Pede pra sair!". Sugere-se, dessa forma, a incompetência do mencionado ministro, que teria demonstrado inépcia ao fazer declarações que teriam comprometido sua autoridade nas negociações de Doha.

b) Sim, pois, da maneira como o título foi apresentado, entende-se uma exortação para que Celso Amorim peça para sair - das negociações de Doha ou do Ministério. Sem usar a vírgula, o verbo deixaria de estar no imperativo (pede, segunda pessoa do singular) e passaria a ser uma forma do presente do indicativo (terceira pessoa do singular); Amorim, por sua vez, deixaria de ser um vocativo e passaria a sujeito de pede. Assim, a frase deixaria de ser exortativa e passaria a ser declarativa.




TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
TEXTO IV

O dia abriu seu para-sol bordado

O dia abriu seu para-sol bordado
De nuvens e de verde ramaria.
E estava até um fumo, que subia,
Mi-nu-ci-o-sa-men-te desenhado.

Depois surgiu, no céu azul arqueado,
A Lua – a Lua! – em pleno meio-dia.
Na rua, um menininho que seguia
Parou, ficou a olhá-la admirado...

Pus meus sapatos na janela alta,
Sobre o rebordo... Céu é que lhes falta
Pra suportarem a existência rude!

E eles sonham, imóveis, deslumbrados,
Que são dois velhos barcos, encalhados
Sobre a margem tranquila de um açude..
MARIO QUINTANA
Prosa e verso. Porto Alegre: Globo, 1978.


3. (Uerj 2009)  Há no poema de Mario Quintana um mesmo sinal de pontuação – o ponto de exclamação – que aparece em versos diferentes e com sentidos distintos.
Explicite o valor semântico atribuído a esse sinal em cada um dos versos.


Resposta:

1ª ocorrência: surpresa, perplexidade.
2ª ocorrência: lástima, pesar.




TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
TEXTO 1

            A primeira vez que vim ao Rio de Janeiro foi em 1855.
            Poucos dias depois da minha chegada, um amigo e companheiro de infância, o Dr. Sá, levou-me à festa da Glória; uma das poucas festas populares da corte. Conforme o costume, a grande romaria desfilando pela Rua da Lapa e ao longo do cais serpejava nas faldas do outeiro e apinhava-se em torno da poética ermida, cujo âmbito regurgitava com a multidão do povo.
            Era ave-maria quando chegamos ao adro; perdida a esperança de romper a mole de gente que murava cada uma das portas da igreja, nos resignamos a gozar da fresca viração que vinha do mar, contemplando o delicioso panorama da baía e admirando ou criticando as devotas que também tinham chegado tarde e pareciam satisfeitas com a exibição de seus adornos.
            Enquanto Sá era disputado pelos numerosos amigos e conhecidos, gozava eu da minha tranquila e independente obscuridade, sentado comodamente sobre a pequena muralha e resolvido a estabelecer ali o meu observatório. Para um provinciano lançado recém-lançado-chegado à corte, que melhor festa do que ver passar-lhe pelos olhos, à doce luz da tarde, uma parte da população desta grande cidade, com os seus vários matizes e infinitas gradações?
            Todas as raças, desde o caucasiano sem mescla até o africano puro; todas as posições, desde as ilustrações da política, da fortuna ou do talento, até o proletário humilde e desconhecido; todas as profissões, desde o banqueiro até o mendigo; finalmente, todos os tipos grotescos da sociedade brasileira, desde a arrogante nulidade até a vil lisonja, desfilaram em face de mim, roçando a seda e a casimira pela baeta ou pelo algodão, misturando os perfumes delicados às impuras exalações, o fumo aromático do havana às acres baforadas do cigarro de palha.
ALENCAR, José de. Lucíola. São Paulo: Editora Ática, 1988, p. 12.


TEXTO 2

            Quando a manhã chuvosa nasceu, as pessoas que passavam para o trabalho se aproximavam dos corpos para ver se eram conhecidos, seguiam em frente. Lá pelas nove horas, Cabeça de Nós Todo, que entrara de serviço às sete e trinta, foi ver o corpo do ladrão. Ao retirar o lençol de cima do cadáver, concluiu: "É bandido". O defunto tinha duas tatuagens, a do braço esquerdo era uma mulher de pernas abertas e olhos fechados, a do direito, são Jorge guerreiro. E, ainda, calçava chinelo Charlote, vestia calça boquinha, camiseta de linha colorida confeccionada por presidiários. Porém, quando apontou na extremidade direita da praça da Quadra Quinze, em seu coração de policial, nos passos que lhe apresentavam a imagem do corpo de Francisco, um nervosismo brando foi num crescente ininterrupto até virar desespero absoluto. O presunto era de um trabalhador.
LINS, Paulo. Cidade de Deus. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 55-56.



4. (Puc-rio)  a) Reescreva o período a seguir, pontuando-o corretamente.

É fato conhecido por muitos que Paulo Lins escritor carioca viveu na Cidade de Deus onde se desenrola a trama de seu famoso livro.

b) Construa períodos compostos por subordinação transformando as orações sublinhadas em subordinadas adjetivas. Respeite o início indicado. Veja o exemplo:

            AQUELA DEVOTA CHEGOU TARDE. A devota não conseguiu entrar na igreja. Resposta: A devota que chegou tarde não conseguiu entrar na igreja.

(i) ESTAVA SENTADA SOBRE UMA PEQUENA MURALHA. Converti a pequena muralha em meu observatório.  Converti ...

(ii) A MORTE DAQUELE HOMEM MOBILIZOU A COMUNIDADE. Aquele homem era um trabalhador honesto. Aquele homem ...


Resposta:

a) É fato conhecido por muitos que Paulo Lins, escritor carioca, viveu na Cidade de Deus, onde se desenrola a trama de seu famoso livro.

b)
(i) Converti em meu observatório a pequena muralha sobre a qual estava sentado.
(ii) Aquele homem cuja morte mobilizou a comunidade era um trabalhador honesto.



  
5. (Fuvest)  Preciso que um barco atravesse o mar
lá longe
para sair dessa cadeira
para esquecer esse computador
e ter olhos de sal
boca de peixe
e o vento frio batendo nas escamas.
            (...)
            Marina Colasanti, "Gargantas abertas".

Gosto e preciso de ti
Mas quero logo explicar
Não gosto porque preciso
Preciso sim, por gostar.
            Mário Lago, <www.encantosepaixoes.com.br>

a) Nos poemas apresentados, as preposições "para" e "por" estabelecem o mesmo tipo de relação de sentido? Justifique sua resposta.
b) Sem alterar o sentido do texto de Mário Lago, transcreva-o em prosa, em um único período, utilizando os sinais de pontuação adequados.


Resposta:

a) Não. "Para" dá ideia de finalidade e "Por" dá ideia de causa.

b) Gosto e preciso de ti, mas quero logo explicar: não gosto porque preciso; preciso sim, por gostar.




TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
PENSAR É VIVER

            Não tenho nenhuma receita, nenhum facilitador para se entender a vida: ela é confusão mesmo.
            A gente avança no escuro, teimosamente, porque recuar não dá. Nesse labirinto a gente encontra o fio de um afeto, pontos de criatividade, explosões de pensamento ou ação que nos iluminem, por um momento que seja. Coisas que nos justifiquem enquanto seres humanos.
            Tenho talvez a ingenuidade de acreditar que tudo faz algum sentido, e que nós precisamos descobrir - ou inventá-lo. Qualquer pessoa pode construir a sua "filosofia de vida". Qualquer pessoa pode acumular vida interior. Sem nenhuma conotação religiosa, mas ética: o que valho, e os outros, o que valem para mim? O que estou fazendo com a minha vida, o que pretendo com ela?
            Essa capacidade de refletir, ou de simplesmente aquietar-se para sentir, faz de nós algo além de cabides de roupas ou de ideias alheias. Sempre foi duro vencer o espírito de rebanho, mas esse conflito se tornou esquizofrênico: de um lado precisamos ser como todo mundo, é importante adequar-se, ter seu grupo, pertencer; de outro lado é necessário preservar uma identidade e até impor-se, às vezes transgredir, para sobreviver.
            Discernir e escolher fica mais difícil, porque o excesso de informações nos atordoa, a troca de mitos nos esvazia, a variedade de solicitações nos exaure. Para ter algum controle de nossa vida é necessário descobrir quem somos ou queremos ser - à revelia dos modelos generalizantes.
            Dura empreitada, num momento em que tudo parece colaborar para que se aceitem modelos prontos para servir. Pensamento independente passou a ser excentricidade, quando não agressão. Família, escola e sociedade deviam desenvolver o distanciamento crítico e a capacidade de avaliar - e questionar - para poder escolher.
            Mas, embora a gente se pense tão moderno, não é o que acontece. Alunos (e filhos) questionadores podem ser um embaraço. Preferimos nos tornar membros da vasta confraria da mediocridade, que cultua o mais fácil, o mais divertido, o que todo mundo pensa ou faz, e abafa qualquer inquietação.
            Por sorte nossa, aqui e ali aquele olho da angústia mais saudável entreabre sua pesada pálpebra e nos encara irônico: como estamos vivendo a nossa vida, esse breve sopro... e o que realmente pensamos de tudo isso - se por acaso pensamos?
LUFT, Lya. Pensar é transgredir. Rio de Janeiro: Record, 2004. pp 177-78



6. (G1 - cp2)  Leia o primeiro parágrafo do texto:

"Não tenho nenhuma receita, nenhum facilitador para se entender a vida: ela é confusão mesmo."

a) Que conjunção ou locução conjuntiva poderia substituir os dois pontos sem que o sentido fosse alterado?
b) Que valor semântico, ou seja, que significado apresentam tanto os dois pontos quanto a conjunção/locução conjuntiva que os substitui?


Resposta:

a) Porque.
b) Apresentam valor semântico de causa.



  
7. (Unicamp)  Foi no tempo em que a Bandeirantes recém-inaugurara suas novas instalações no Morumbi. Não havia transporte público até o nosso local de trabalho, e a direção da casa organizou um serviço com viaturas próprias. (...) Paraná era um dos motoristas. (...)
Numa das subidas para o Morumbi "fechou" sem nenhuma maldade um automóvel. O cidadão que o dirigia estava com os filhos, era diretor do São Paulo F.C., e largou o verbo em cima do pobre do Paraná. Que respondeu à altura. Logo depois que a perua chegou ao Morumbi, todo mundo de ponto batido, o automóvel para em frente da porta dos funcionários, e o seu condutor desce bufando: "Onde está o motorista dessa perua? (e lá vinha chegando o Paraná). Você me ofendeu na frente dos meus filhos. Não tem o direito de agir dessa forma, me chamar do nome que me chamou. Vou falar ao João Saad, que é meu amigo!"
E o Paraná, já fuzilando, dedo em riste, tonitruou em seu sotaque mais que explícito: " 'Le' chamei e 'le' chamo de novo... veado ... veado ..." Não houve reação da parte ofendida.
            (Flávio Araújo, "O rádio, o futebol e a vida". São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2001, p. 50-1).

a) Na sequência "(...) e largou o verbo em cima do pobre do Paraná. Que respondeu à altura", se trocarmos o ponto final que aparece depois de 'Paraná' por uma vírgula, ocorrem mudanças na leitura? Justifique.
b) O trecho da resposta de Paraná "Le chamei e le chamo de novo ..." chama a atenção do leitor para a sintaxe da língua. Explique.
c) Substitua 'tonitruou' por outra palavra ou expressão.


Resposta:

a) A vírgula seria mais adequada que o ponto final, pois não ocorre o encerramento do período, visto que a última palavra da frase limitada pelo ponto (Paraná) é retomada pelo pronome relativo que.

b) O "le" da fala do Paraná é uma variante do pronome "lhe".

c) Gritou, clamou em altos brados.



  
8. (Fuvest)  I. Desespero meu: leitura obrigatória de livro indicado...
II. Uma surpresa: tão bom, aquele livro!
III. Nenhum aborrecimento na leitura.

a) Respeitando a sequência em que estão apresentadas as três frases acima, articule-as num único período. Empregue os verbos e os nexos oracionais necessários à clareza, à coesão e à coerência desse período.
b) Transcreva o período abaixo, virgulando-o adequadamente:
A obrigação de ler um livro como toda obrigação indispõe-nos contra a tarefa imposta mas pode ocorrer se encontrarmos prazer nessa leitura que o peso da obrigação desapareça.


Resposta:

a) Desespero meu: leitura obrigatória de livro, no entanto foi uma surpresa, pois era muito bom aquele livro, cuja leitura não causou nenhum aborrecimento.

b) A obrigação de ler um livro, como toda obrigação, indispõe-nos contra a tarefa imposta, mas pode ocorrer, se encontrarmos prazer nessa leitura, que o peso da obrigação desapareça.



  
9. (Fgv)  Nas frases abaixo, em cada um dos parênteses, você pode colocar ou não um sinal de pontuação. Quando decidir usar ponto, não é necessário corrigir, com letra maiúscula, a palavra seguinte.

            Habituada a alardear previsões catastróficas(__) nem sempre confirmadas(__) a Organização Mundial de Saúde(__) OMS(__) resolveu promover(__) um tardio acerto de contas(__) com as conquistas(__) forjadas no interminável duelo da humanidade(__) contra a morte(__) o relatório anual da entidade(__) divulgado neste mês(__) conclui o seguinte(__) "a população mundial(__) nunca teve uma perspectiva(__) de vida tão saudável(__) o século XXI não traz simplesmente a probabilidade de uma vida mais longa(__) mas também(__) uma qualidade de vida superior(__) com menos doenças(__)"


Resposta:

Habituada a alardear previsões catastróficas [_] [,] nem sempre confirmadas [,] a Organização Mundial de Saúde [,] OMS [,] resolveu promover [_] um tardio acerto de contas    [_] com as conquistas [_] forjadas no interminável duelo da humanidade [_] contra a morte [.] o relatório anual da entidade [,] divulgado neste mês [,] conclui o seguinte [:] "a população mundial [_] nunca teve uma perspectiva [_] de vida tão saudável [.] [;] o século XXI não traz simplesmente a probabilidade de uma vida mais longa [,] mas também [_] uma qualidade de vida superior [,] com menos doenças [.]"



  
10. (Ita)  Leia o texto seguinte:

            Levantamento inédito com dados da Receita revela quantos são, quanto ganham e no que trabalham OS RICOS BRASILEIROS QUE PAGAM IMPOSTOS. (...)
            Entre os nove que ganham mais de 10 milhões por ano, há cinco empresários, dois empregados do setor privado, um que vive de rendas. O outro, QUEM DIRIA, é servidor público. ("Veja", 12/7/2000.)

a) A ausência de vírgula no trecho em destaque, no primeiro parágrafo, afeta o sentido? Justifique.

b) Por que o emprego da vírgula é obrigatório no trecho em destaque, no segundo parágrafo? O que esse trecho permite inferir?


Resposta:

a) Sim, pois com a ausência de vírgula faz-se a seguinte leitura: "são todos os ricos brasileiros e todos eles pagam impostos". Com a presença da vírgula, tem-se que somente dos ricos brasileiros que pagam impostos".

b) No trecho "quem diria" é obrigatório o uso da vírgula, pois funciona como uma intromissão do jornalista; uma expressão de surpresa diante de fato inusitado.

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