quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Concordância verbal e nominal - Questões discursivas com gabarito comentado




1. (Pucrj 2013)  Leia.

De um lado, a loucura existe em relação à razão ou, pelo menos, em relação aos “outros” que, em sua generalidade anônima, encarregam-se de representá-la e atribuir-lhe valor de exigência; por outro lado, ela existe para a razão, na medida em que surge ao olhar de uma consciência ideal que a percebe como diferença em relação aos outros. A loucura tem uma dupla maneira de postar-se diante da razão: ela está ao mesmo tempo do outro lado e sob seu olhar. Do outro lado: a loucura é diferença imediata, negatividade pura, aquilo que se denuncia como não-ser, numa evidência irrecusável; é uma ausência total de razão, que logo se percebe como tal, sobre o fundo das estruturas do razoável. Sob o olhar da razão: 1a loucura é individualidade singular cujas características próprias, a conduta, a linguagem, os gestos, distinguem-se uma a uma daquilo que se pode encontrar no não-louco; em sua particularidade ela se desdobra para uma razão que não é termo de referência mas princípio de julgamento; a loucura é então considerada em suas estruturas do racional.

FOUCAULT, Michel. História da Loucura na Idade Clássica. Tradução: José Teixeira Coelho Netto. São Paulo: Ed. Perspectiva, 1972. p.203.

a) Com relação ao trecho “A loucura tem uma dupla maneira de postar-se diante da razão: ela está ao mesmo tempo do outro lado e sob seu olhar.”, extraído do texto, faça o que é pedido a seguir:
i. identifique o referente de cada um dos pronomes destacados, iniciando a sua resposta da seguinte forma:
O referente do pronome _________________________________________________.
ii. indique um conectivo que poderia ser empregado no lugar dos dois pontos.
b) Comprovando com dados do próprio trecho, explique por que o verbo distinguir foi flexionado na 3ª pessoa do plural em “a loucura é individualidade singular cujas características próprias, a conduta, a linguagem, os gestos, distinguem-se uma a uma daquilo que se pode encontrar no não-louco(ref. 1).


Resposta:

a)
i. O referente do pronome se é loucura e o do pronome seu, razão.
ii. Pois, porque, já que, visto que, uma vez que.
b) O verbo está concordando com características próprias.



  
2. (Pucrj 2013)  Leia.

Platão defendeu, no Banquete, em Fedra e em outros textos, a existência de um espírito místico ou furor enviado pelo céu, através do qual uns poucos eleitos se “inspiravam”: “As maiores bênçãos vêm por intermédio da loucura, aliás, da loucura que é enviada pelo céu.” Possuídas assim por visões transcendentais ou por conhecimentos transcendentais, 1essas pessoas desfrutavam de uma “loucura divina”, que as elevava acima dos mortais.
A concepção freudiana do gênio era bastante diferente. Não era uma dádiva dos deuses, mas resultado dos processos do inconsciente; não vinha de cima, mas de dentro, das profundezas. [...]
A “arte” e a habilidade artística, mais que a inspiração, eram consideradas a marca do artista ou do escritor, e as estruturas de patronagem do mundo das letras tradicional proviam fortes argumentos a favor da conformidade social, em vez de excentricidade do artista.
2Isso não quer dizer que a “imaginação” e o “gênio” visionário estivessem em baixa em terrenos críticos. Mas a teoria clássica, modificada pela psicologia empirista do Iluminismo, insistia que a imaginação não deveria ser obstinada, idiossincrática e visionária, mas residir na sólida formação dos sentidos e ser temperada pelo juízo. O verdadeiro gênio era um impulso orgânico saudável para a combinação das matérias-primas da mente.

PORTER, Roy. Uma História Social da Loucura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990. p.81-82.

a) A palavra que apresenta comportamentos distintos nos trechos em destaque. Estabeleça a diferença entre os dois empregos.
i. “essas pessoas desfrutavam de uma “loucura divina”, que as elevava acima dos mortais” (ref. 1)
ii. “Isso não quer dizer que a “imaginação” e o “gênio” visionário estivessem em baixa em terrenos críticos.” (ref. 2)
b) Mantendo o mesmo sentido, reescreva a passagem em destaque, de acordo com o que é pedido:
O Iluminismo endossou a fé na razão. Durante a segunda metade do século XVII, passou-se a criticar, condenar e massacrar qualquer coisa que fosse considerada irracional.

→ Use o verbo “efetuar” no lugar do verbo “passar”;
→ Substitua cada um dos verbos assinalados pela forma nominal correspondente no plural.
→ Faça outras modificações que julgar necessárias em função das alterações propostas.

O Iluminismo endossou a fé na razão. Durante a segunda metade do século XVII, ________________________________________________________.


Resposta:

a) Em i, a palavra que é um pronome relativo – introduz a oração adjetiva e substitui “loucura divina” nessa oração. Em ii, a palavra que é uma conjunção integrante - serve como elo sintático, ligando as orações.
b) O Iluminismo endossou a fé na razão. Durante a segunda metade do século XVII, efetuaram-se críticas, condenações e massacres a qualquer coisa que fosse considerada irracional.



  
3. (Pucrj 2013)  Texto 1
Apesar de consideradas pela crítica, durante muito tempo, uma manifestação menor da literatura, as narrativas de viagem viveram momentos de glória no passado. Inúmeros escritores se dedicaram ao gênero, e eram muitos os leitores aficionados pelos relatos de aventuras. Na forma de diários, memórias ou simplesmente impressões de viagens, os textos surgiam aos borbotões, nos séculos XVIII e XIX, ora inspirados pelo Velho, ora pelo Novo Mundo, expressando sempre o olhar fascinado, a curiosidade e o desejo do viajante de deixar registrada a sua experiência, que ele julgava ímpar.
Na Europa, os destinos mais buscados eram a Alemanha, a Itália e a Espanha, fosse pela mitologia, pela glória passada ou pela profusão de ruínas históricas. 1E não importava se a viagem durasse semanas, meses ou anos; interessava relatá-la e assim se inscrever na tradição do gênero. Dentre os mais ilustres viajantes, Goethe, Mme. de Stäel, Victor Hugo, Michelet, Lamartine e Mérimée foram autores que incentivaram outros escritores a também excursionar e a escrever sobre as novas terras.
A América foi igualmente pródiga em inspirar viajantes - em sua maioria pintores, botânicos, naturalistas, arqueólogos ou simples aventureiros -, ainda que a maioria não tivesse pretensões literárias e quisesse apenas fazer anotações acerca da geografia, fauna e flora tropical das novas terras.
Octavio Ianni, em A metáfora da viagem, afirma que a história dos povos “está atravessada pela viagem”, não importa se real (se ocorre o deslocamento geográfico, espacial e temporal), ou metafórica (sem o deslocamento físico, mas apenas o sensível ou sensorial), pois toda sociedade trabalha a viagem, “seja como modo de descobrir o ‘outro’, seja como modo de descobrir o ‘eu’”. A viagem destina-se, portanto, a ultrapassar fronteiras, a demarcar as diferenças e as semelhanças entre os povos.
E, se consideramos as condições em que os deslocamentos eram realizados, as enormes distâncias, o desconforto de navios, carros de bois e ferrovias, além dos perigos de toda natureza a que estavam sujeitos, causa espanto encontrar tantas mulheres, dentre os viajantes, que ousaram deixar a segurança de seus lares, suas famílias e enfrentar o preconceito, as novas fronteiras, o desconhecido.

DUARTE, Constância Lima; MUZZART, Zahidé Lupinacci. Pensar o outro ou quando as mulheres viajam. Revista Estudos Feministas. vol.16 n.3. Florianópolis. Setembro/dezembro. 2008. Apresentação. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-026X2008000300018&script=sci_arttext>. Acesso em: 12 ago. 2012.

Texto 2
Espalham-se, por fim, as sombras da noite.
O sertanejo que de nada cuidou, que não ouviu as harmonias da tarde, nem reparou nos esplendores do céu, que não viu a tristeza a pairar sobre a terra, que de nada se arreceia, consubstanciado como está com a solidão, para, relanceia os olhos ao derredor de si e, se no lagar pressente alguma aguada, por má que seja, apeia-se, desencilha o cavalo e reunindo logo uns gravetos bem secos, tira fogo do isqueiro, mais por distração do que por necessidade.
Sente-se deveras feliz. Nada lhe perturba a paz do espírito ou o bem-estar do corpo. Nem sequer monologa, como qualquer homem acostumado a conversar.
1Raros são os seus pensamentos: ou rememora as léguas que andou, ou computa as que tem que vencer para chegar ao término da viagem.
No dia seguinte, quando aos clarões da aurora acorda toda aquela esplêndida natureza, recomeça ele a caminhar, como na véspera, como sempre.
Nada lhe parece mudado no firmamento: as nuvens de si para si são as mesmas. 2Dá-lhe o Sol, quando muito, os pontos cardeais, e a terra só lhe prende a atenção, quando algum sinal mais particular pode servir-lhe de marco miliário na estrada que vai trilhando.

TAUNAY, Visconde de. Inocência. Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000002.pdf>. Acesso em: 20 set. 2012.


a) Com base na frase abaixo, extraída do texto 1, determine a diferença que se estabelece entre os dois empregos da palavra se.
“E não importava se a viagem durasse semanas, meses ou anos; interessava relatá-la e assim se inscrever na tradição do gênero.” (ref. 1)
b) Reescreva o período abaixo, fazendo as alterações necessárias para atender ao que é proposto.
“Raros são os seus pensamentos: ou rememora as léguas que andou, ou computa as que tem que vencer para chegar ao término da viagem.” (Texto 2 – ref. 1)
Raros eram ___________________________________________________________.
c) Com relação à passagem “Dá-lhe o Sol, quando muito, os pontos cardeais, e a terra só lhe prende a atenção” (Texto 2 – ref. 2), explique por que o verbo dar encontra-se flexionado na 3ª pessoa do singular.


Resposta:

a) No seu primeiro emprego a palavra se é conjunção integrante, introduz uma oração subordinada substantiva e traz o sentido de possibilidade. No segundo emprego, a palavra se é pronome pessoal oblíquo com valor reflexivo.
b) Raros eram os seus pensamentos: ou rememorava as léguas que andara/tinha andado, ou computava as que tinha que vencer para chegar ao término da viagem.
c) O verbo encontra-se na 3ª pessoa do singular para concordar com o sujeito “o Sol”.



  
4. (Ufes 2012)  Reescreva, com as devidas adaptações, as duas últimas falas do personagem MESTRE, do texto abaixo, fazendo uso do pronome VOCÊ ou VOCÊS, conforme o caso.

TEXTO
AMBRÓSIO — Senhores, denuncio-vos um criminoso.
MEIRINHO — É verdade que tenho aqui uma ordem contra um noviço...
MESTRE —... Que já de nada vale. (Prevenção.)
TODOS — O Padre-Mestre!
MESTRE (para Carlos) — Carlos, o Dom Abade julgou mais prudente que lá não voltásseis. Aqui tens a permissão por ele assinada para saíres do convento.
CARLOS (abraçando-o) — Meu bom Padre-Mestre, este ato reconcilia-me com os frades.
MESTRE — E vós, senhoras, esperai da justiça dos homens o castigo deste malvado. (Para Carlos e Emília:) E vós, meus filhos, sede felizes, que eu pedirei para todos (ao público:) indulgência!
AMBRÓSIO — Oh, mulheres, mulheres! (Execução.)

(O noviço, de Martins Pena)


Resposta:

Mestre (para Carlos) – Carlos, o Dom Abade julgou mais prudente que lá não voltassem. Aqui tem a permissão por ele assinada para sair do convento.

Mestre – E vocês, senhoras, esperem da justiça dos homens o castigo deste malvado. (para Carlos e Emília:) E vocês, meus filhos, sejam felizes, que eu pedirei para todos (ao público:) indulgência!



  
5. (G1 - ifsp 2012)  Atendendo à norma-padrão, reescreva o período a seguir, substituindo as lacunas por uma das palavras que está entre parênteses e justifique.
Só para dar um exemplo: _________ (existe/existem) países em que o escritor é um profissional reconhecido pelas leis, que _______ (o/lhe) amparam. Na Inglaterra, as editoras _______ (tem/têm) que mandar um livro para cada biblioteca do país, quando ele é publicado.


Resposta:

Só para dar um exemplo: existem países em que o escritor é um profissional reconhecido pelas leis, que o amparam. Na Inglaterra, as editoras têm de mandar um livro para cada biblioteca do país, quando ele é publicado.




TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Ceará tenta tirar de Pernambuco o título de “pai” do forró

Pernambuco e Ceará sempre dividiram o título de precursor do ritmo que ficou conhecido popularmente como forró. O pernambucano de Exu, Luiz Gonzaga, e o cearense de Iguatu, Humberto Teixeira, foram autores de músicas que descreviam tanto a seca e a fome da região quanto as belezas do sertão nordestino. O clássico “Asa branca”, de autoria dos dois, representa bem isso. Agora, músicos cearenses atribuem esse pioneirismo a outro artista.
O primeiro registro fonográfico de um forró teria sido feito por um violeiro. Em outubro de 1937, Xerêm gravou “Forró na roça”. Apesar de ser cearense, essa foi a única canção do estilo gravada pelo cantor. Xerêm partiu adolescente para Minas Gerais, formou dupla caipira e virou cantor de moda de viola.
O diretor do Memorial Luiz Gonzaga de Recife, Mauro Alencar, ouviu pela primeira vez a música “Forró na roça” a pedido da reportagem do iG. Para ele, a canção só tem “forró” no título. “Isso não é forró nem baião. É música mineira, lembra o calango, ritmo mineiro dos ‘bão’”, ironiza.
O estilo musical que se convencionou chamar forró sequer é considerado um gênero por muitos músicos. Segundo Mauro Alencar, a palavra seria uma corruptela de uma expressão lusitana: ‘forrobodó’, que quer dizer ‘baile popular’. O pesquisador explica que o ritmo a que atribuem o nome de forró é o baião, criado por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira.

(Daniel Aderaldo, www.ig.com.br. Adaptado.)


6. (Uftm 2012)  Com base no texto, responda:

a) O pronome isso, em O clássico “Asa branca”, de autoria dos dois, representa bem isso. –, confere ambiguidade à frase no contexto do primeiro parágrafo. Em que consiste essa ambiguidade?
b) Reescreva a frase Apesar de ser cearense, essa foi a única canção do estilo gravada pelo cantor. – fazendo as alterações necessárias para substituir a expressão Apesar de por Embora e empregar o verbo gravar, no trecho – gravada pelo cantor –, na voz ativa.


Resposta:

a) O pronome demonstrativo “isso” pode remeter anaforicamente aos estados brasileiros, Pernambuco e Ceará, considerados pioneiros do forró, ou à música “Asa Branca” que descreve a realidade do sertão nordestino.
b) Embora fosse cearense, essa foi a única canção do estilo que o cantor gravou.




TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Era conferente da Alfândega – mas isso não tem importância. Somos todos alguma coisa fora de nós; o eu irredutível nada tem a ver com as classificações profissionais. Pouco importa que nos avaliem pela casca. Por dentro, sentia-se diferente, capaz de mudar sempre, enquanto a situação exterior e familiar não mudava. Nisso está o espinho do homem: ele muda, os outros não percebem.
Sua mulher não tinha percebido. Era a mesma de há 23 anos, quando se casaram (quanto ao íntimo, é claro). Por falta de filhos, os dois viveram demasiado perto um do outro, sem derivativo. Tão perto que se desconheciam mutuamente, como um objeto desconhece outro, na mesma prateleira de armário. Santos doía-se de ser um objeto aos olhos de Dona Laurinha. Se ela também era um objeto aos olhos dele? Sim, mas com a diferença de que Dona Laurinha não procurava fugir a essa simplificação, nem reparava; era, de fato, objeto. Ele, Santos, sentia-se vivo e desagradado.

(Carlos Drummond de Andrade, O outro marido.)


7. (Uftm 2012)  Com base no texto, responda:

a) Por que, para o narrador, o fato de Santos ser conferente da Alfândega não tem importância?
b) Reescreva o trecho – ... o eu irredutível nada tem a ver com as classificações profissionais. fazendo os ajustes necessários para empregar a expressão as classificações profissionais como sujeito da oração.


Resposta:

a) Para o narrador, o que importava era a essência e não a aparência (“Pouco importa que nos avaliem pela casca. Por dentro, sentia-se diferente, capaz de mudar sempre, enquanto a situação exterior e familiar não mudava”).
b) As classificações profissionais nada têm a ver com o eu irredutível.




TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
A resposta de qualquer pai ou mãe, questionado sobre o que deseja para os filhos, está sempre na ponta da língua: “Só quero que sejam felizes”. A frase não deixa dúvidas de que, numa sociedade moderna, livre de muitas das restrições morais e culturais do passado, a felicidade é vista como a maior realização de um indivíduo. Até governos nacionais se viram na obrigação de fazer algo a respeito. Neste ano, a China e o Reino Unido anunciaram a intenção de medir o grau de felicidade de seus habitantes. Os governantes, espera-se, querem o melhor para seu país, assim como os pais querem o melhor para seus filhos. Mas a ambição de sempre colocar um sorriso no rosto pode ter um efeito contrário. A pressão por ser feliz, condição nada fácil de ser definida, pode acabar reduzindo as chances de as pessoas viverem bem.
“Quero que meus filhos sejam felizes, mas também que encontrem um propósito e conquistem seus objetivos”, diz o americano Martin Seligman, considerado o mestre da psicologia positiva. Depois de estudar a busca da felicidade por mais de 20 anos, ele afirma ser tolice elegê-la como a única ambição na vida. Ex-presidente da Associação Americana de Psicologia, professor da Universidade da Pensilvânia, pai de sete filhos e avô pela quarta vez, Seligman reviu suas teorias e concluiu que é preciso relativizar a importância das emoções positivas. “Perseguir apenas a felicidade é enganoso”, diz Seligman a ÉPOCA. Segundo ele, a felicidade pode tornar a vida um pouco mais agradável. E só. Em seu lugar, o ser humano deveria buscar um objetivo mais simples e fácil de ser contemplado: o bem-estar.

(Letícia Sorg e Juliana Elias, http://revistaepoca.globo.com, 27.05.2011.)


8. (Uftm 2012)  Com base no texto, responda:

a) Reescreva o trecho – A resposta de qualquer pai ou mãe, questionado sobre o que deseja para os filhos, está sempre na ponta da língua: “Só quero que sejam felizes”. – preservando o sentido do texto e fazendo as adaptações necessárias a fim de substituir a expressão pai ou mãe pelo plural pais.
b) Explique qual é o significado de mencionar que o americano Martin Seligman é pai de sete filhos e avô pela quarta vez (segundo parágrafo).


Resposta:

a) A resposta de quaisquer pais, questionados sobre o que desejam para os filhos, está sempre na ponta da língua: “Só queremos que sejam felizes”.
b) Ao mencionar que o americano Martin Seligman é pai de sete filhos e avô pela quarta vez, as articulistas pretendem valorizar a experiência que o psicólogo foi adquirindo ao longo da vida e que lhe permitiu rever alguns conceitos enunciados anteriormente.



  
9. (Fgv 2009)  Leia os versos de Carlos Drummond de Andrade.

            "Os amantes se amam cruelmente
            e com se amarem tanto não se veem.
            Um se beija no outro, refletido.
            Dois amantes que são? Dois inimigos."

a) Reescreva os dois versos iniciais, passando-os para a primeira pessoa do plural.
b) Reescreva os dois últimos versos, substituindo UM por EU.


Resposta:

a) "Nós, os amantes, nos amamos cruelmente / e, como nos amarmos tanto, não nos vemos."

b) "Eu me beijo no outro, refletido. / Dois amantes que somos? Dois inimigos."




TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
TEXTO 1

            Todos os retratos que tenho de minha mãe não me dão nunca a verdadeira fisionomia que eu guardo dela - a doce fisionomia daquele seu rosto, daquela melancólica beleza de seu olhar. Ela passava o dia inteiro comigo. Era pequena e tinha os cabelos pretos. Junto dela eu não sentia necessidade dos meus brinquedos. D. Clarisse, como lhe chamavam os criados, parecia mesmo uma figura de estampa. Falava para todos com um tom de voz de quem pedisse um favor, mansa e terna como uma menina de internato. Criara-se em colégio de freiras, sem mãe, 2pois o pai ficara viúvo quando ela ainda não falava. Filha de senhor de engenho, parecia mais, pelo que me contavam dos seus modos, uma dama nascida para a reclusão.
            À noite ela me fazia dormir. Adormecer nos seus braços, ouvindo a surdina daquela voz, era o meu requinte de sibarita pequeno.
            Ela me enchia de carícias. E quando o meu pai chegava nas suas crises, exasperado como um pé-de-vento, eu a via chorar e pronta a esquecer todas as intemperanças verbais do seu marido. Os criados amavam-na. Ela também os tratava com uma bondade que não conhecia mau humor.
            Horas inteiras eu fico a pintar o retrato dessa mãe angélica, com as cores que tiro da imaginação, e vejo-a assim, ainda tomando conta de mim, dando-me banhos e me vestindo. 1A minha memória ainda guarda detalhes bem vivos que o tempo não conseguiu destruir.
RÊGO, José Lins do. Menino do engenho. Rio de Janeiro: José Olympio, 1972, p. 6.


TEXTO 2

            É sempre assim. 1As memórias que a gente guarda da vida experimentada vão se enfraquecendo cada vez mais. Pra dar pra elas ilusoriamente a força da realidade nós as transpomos pro mundo das assombrações por meio do exagero. (...)
            É um engano isso de afirmarem que a gente pode reviver, tornar a sentir as sensações e os sentimentos do passado. 2As memórias são fragilíssimas, degradantes e sintéticas pra que possam nos dar a realidade que passou tão complexa e grandiosa. Na verdade o que a gente faz é povoar a inteligência de assombrações exageradas e secundariamente falsas. Esses sonhos de acordado, poderosamente revestidos de palavras, se projetam da inteligência pros sentidos e dos sentidos pro ambiente exterior, se alargando cada vez mais. São as assombrações. Diferentes 3pois das sensações, as quais do ambiente exterior pros sentidos e destes pra inteligência vêm se diminuindo cada vez mais. E essas assombrações por completo diferentes de tudo quanto passou é que a gente chama de "passado"...
ANDRADE, Mário de. Táxi e crônicas no Diário Nacional. São Paulo: Duas Cidades / Secretaria da Cultura, Ciência e Tecnologia, 1976, p.102.


10. (Puc-rio 2008)  a) No Texto 1, predominam verbos no pretérito imperfeito do indicativo, ao passo que, no Texto 2, é o presente do indicativo que é mais recorrente. Explique esses predomínios levando em conta as diferenças entre os dois tipos de texto.
b) Há na passagem a seguir DOIS erros gramaticais. Reescreva o período corrigindo-os.

Em celebração a passagem do cinquentenário da morte de José Lins do Rego, aconteceu, há pouco mais de um mês, na capital paraibana, várias atividades culturais promovidas pelo Governo do Estado: concurso de redação, espetáculo teatral, exibição de filme e concerto.


Resposta:

a) No Texto 1, há o predomínio do pretérito imperfeito do indicativo, por se tratar de uma narrativa na qual o narrador-personagem relembra cenas passadas, habituais.
O Texto 2, por ser expositivo e ter um narrador que específica as características gerais da memória, tem o presente do indicativo como tempo predominante.

b) Em celebração À passagem do cinquentenário da morte de José Lins do Rego, ACONTECERAM, há pouco mais de um mês, na capital paraibana, várias atividades promovidas pelo Governo do Estado: concurso de redação, espetáculo teatral, exibição de filme e concerto. 

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terça-feira, 27 de novembro de 2012

Específica da Uerj - Interpretação de texto - questões discursivas com gabarito comentado





1. (Uerj 2012)  TEXTO II

Ele está cansado, é quase meia-noite, e pode afinal voltar para casa. (...). No edifício da esquina, o mesmo cachorro de focinho enterrado na lata de lixo. Ao passar sob as árvores, ao menor arrepio do vento, gotas borrifam-lhe o rosto, que ele não se incomoda de enxugar.
Ao mexer no portão, o cachorrinho late duas vezes – estou aqui, meu velho – e, 1por mais que saltite ao seu lado, procurando alcançar-lhe a mão, ele não o agrada. (...)
Prevenido, desvia-se do aquário sobre o piano: o peixinho dourado conhece os seus passos e de puro exibicionismo entrega-se às mais loucas evoluções.
Ele respira fundo e, cabisbaixo, entra no quarto. 2A mulher, sentada na cama, a folhear sempre uma revista (é a mesma revista antiga), olha para ele, mas ele não a olha.
No banheiro, veste em surdina o pijama e, ao lavar as mãos, recolhe da pia os longos cabelos alheios. Escova de leve os dentes, sem evitar que sangrem as gengivas.
– Ai, como é triste a velhice... – confessa para o espelho, e são palavras que não querem dizer nada.
Aperta as torneiras da pia, do chuveiro e do bidê – se uma delas pingasse ele já não poderia dormir.
Na passagem, apanha o livro sobre o guarda-roupa – ele a olhou de relance, mas ela não o olhou – e dirige-se para a sala, onde acende a lâmpada ao lado da poltrona. Em seguida, descalço, sobe na cadeira e com a chave dá corda ao relógio. Entra na cozinha e, ao abrir a luz, pretende não ver a mesma barata na sua corrida tonta pelos cantos. Deita um jarro d’água no filtro e bebe meio copo, que enxuga no pano e põe de volta no armário.
Antes de sentar na poltrona, detém-se diante do quarto da filha – a porta está aberta, mas ele não entra. Esboça um aceno e presto encolhe a mão. Por mais que afine o ouvido não escuta o bafejo da criança em sossego – e se ela deixou de respirar?
(...) Abre o livro e concentra-se na leitura: frases sem nenhum sentido.
Na casa silenciosa, apenas o voltear das folhas lá no quarto, às suas costas o peixinho estala o bico a modo de um velho que rumina a dentadura. Por vezes, cansado demais, cabeceia e o livro cai-lhe no joelho – enquanto não se apaga a luz do quarto ele não vai deitar.
(...)
Está salvo desde que ignore a porta do quarto da filha; ergue, com esforço, as pálpebras pesadas de sono e lê mais algumas linhas, evitando levar a mão ao rosto, onde um músculo dispara de repente a tremer no canto da boca. (...)
Ao extinguir-se enfim a outra luz, ele deixa passar alguns minutos e, arrastando os pés no tapete, recolhe-se ao quarto, acende a lâmpada do seu criado-mudo, com cautela infinita para não encarar a esposa que, voltada para o seu lado, pode estar com um olho aberto ou, quem sabe, até com um sorriso nos lábios. (...)
Será uma grande demora até que na rua clarinem* as primeiras buzinas – os galos da cidade. (...) Prepara-se para a noite em que há de entrar numa casa deserta e, ao abrir a porta, assobiará duas notas, uma breve, outra longa: todos os quartos vazios, o assobio é para a sua alma irmã, a baratinha no canto escuro.
(...)
Longe vai a manhã, mas resta-lhe o consolo de que, ao saltar do leito, esquecerá entre os lençóis o fantasma do seu terror noturno. Outra vez ergue-se no quarto o ressonar tranquilo da esposa; cuidadoso de não ranger o colchão, ele volta-se para o outro lado. Pouco importa se nunca mais chegar a dormir. Afinal você não pode ter tudo.

DALTON TREVISAN
A guerra conjugal. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969.

* Clarinem - soem como clarim

Nos trechos transcritos a seguir, estão sublinhados dois verbos que podem ser usados com variação da regência: transitivo direto ou transitivo indireto. A variação da regência altera o sentido do verbo “agradar”: fazer agrados ou ser agradável. Já o verbo “olhar” expressa o mesmo sentido nos dois casos.

por mais que saltite ao seu lado, procurando alcançar-lhe a mão, ele não o agrada. (ref.1)
A mulher, sentada na cama, (...) olha para ele, mas ele não a olha. (ref. 2)

Identifique, no primeiro trecho, a regência do verbo “agradar” e o sentido em que ele foi empregado.
Em seguida, reescreva o segundo trecho, variando a regência do verbo “olhar” em cada ocorrência.


Resposta:

O verbo agradar pode ser intransitivo, transitivo indireto ou direto, com o sentido de causar boa impressão, satisfazer e fazer carinho, respectivamente. No trecho “ele não o agrada”, o verbo é transitivo direto, portanto com valor semântico de fazer agrados, acarinhar. No segundo trecho, a variação da regência do verbo “olhar” não altera o sentido do texto, pois a mulher, sentada na cama, olha-o, mas ele não olha para ela é sinônima da original.




TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
Gênesis

Quando ele nasceu foi no sufoco
Tinha uma vaca, um burro e um louco
Que recebeu Seu Sete

Quando ele nasceu foi de teimoso
Com a manha e a baba do tinhoso
Chovia canivete

Quando ele nasceu nasceu de birra
Barro ao invés de incenso e mirra
Cordão cortado com gilete

Quando ele nasceu sacaram o berro*
Meteram faca, ergueram ferro
Exu falou: ninguém se mete!

Quando ele nasceu tomaram cana
Um partideiro puxou samba
Oxum falou: esse promete!

ALDIR BLANC
In: FERRAZ, Eucanaã (org.). Veneno antimonotonia.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.

* berro – revólver


2. (Uerj 2012)  Uma característica marcante do poema “Gênesis” é a simetria, que consiste na harmonia de certas combinações e proporções.
Aponte dois recursos diferentes utilizados no poema – um rítmico/sonoro e outro sintático – que contribuem para essa simetria.


Resposta:

O poema de Aldir Blanc, que se notabilizou como letrista a partir de suas parcerias com João Bosco, apresenta recursos rítmicos/sonoros e também sintáticos, típicos das manifestações orais da linguagem que acompanham a música. Assim, a disposição das rimas com esquema AAB/CCB/DDB/EEB//FFB, além do uso de versos de nove e oito sílabas que se alternam no primeiro e segundos versos de cada grupo, conferem ao poema o equilíbrio necessário para que música e letra se completem e resultem em algo agradável de ouvir. Também a repetição do verso “Quando ele nasceu”, que inicia o primeiro verso de cada estrofe, constitui recurso sintático importante para a simetria do poema.



  
3. (Uerj 2012)  Natal

Jesus nasceu! Na abóbada infinita
Soam cânticos vivos de alegria;
E toda a vida universal palpita
Dentro daquela pobre estrebaria...

Não houve sedas, nem cetins, nem rendas
No berço humilde em que nasceu Jesus...
Mas os pobres trouxeram oferendas
Para quem tinha de morrer na Cruz.

Sobre a palha, risonho, e iluminado
Pelo luar dos olhos de Maria,
Vede o Menino-Deus, que está cercado
Dos animais da pobre estrebaria.

Não nasceu entre pompas reluzentes;
Na humildade e na paz deste lugar,
Assim que abriu os olhos inocentes,
Foi para os pobres seu primeiro olhar.

No entanto, os reis da terra, pecadores,
Seguindo a estrela que ao presepe os guia,
Vêm cobrir de perfumes e de flores
O chão daquela pobre estrebaria.

Sobem hinos de amor ao céu profundo;
Homens, Jesus nasceu! Natal! Natal!
Sobre esta palha está quem salva o mundo,
Quem ama os fracos, quem perdoa o Mal!

Natal! Natal! Em toda Natureza
Há sorrisos e cantos, neste dia...
Salve, Deus da Humildade e da Pobreza,
Nascido numa pobre estrebaria!

OLAVO BILAC
In: BUENO, Alexei (org.). Olavo Bilac: obra reunida.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.

O poema “Natal” retrata o episódio que dá início à história do Cristianismo, reunindo os elementos que o caracterizam segundo a tradição católica. O poema “Gênesis” se refere ao mesmo episódio, mas o faz por meio de uma linguagem bem diversa e de forma menos explícita.
Considerando os dados contidos no poema de Olavo Bilac, transcreva os dois versos de “Gênesis” que fazem alusão ao nascimento de Jesus.
Compare, agora, os seguintes versos de “Natal” e “Gênesis”:

Há sorrisos e cantos, neste dia... (v.26)
Um partideiro puxou samba (v.14)

Explique a semelhança e a diferença dos conteúdos desses versos.


Resposta:

Os versos “Tinha uma vaca, um burro e um louco” e “Barro ao invés de incenso e mirra” do poema “Gênesis” estabelecem intertextualidade com o relato bíblico do nascimento de Jesus da tradição judaico-cristã. Assim como o poema “Natal” de Bilac, refere-se ao episódio com expressões de júbilo, embora com linguagem caracteristicamente popular e brasileira, contrastando com o tom convencional e genérico do de Olavo Bilac.




TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Previsões de especialistas

A mídia nos bombardeia diariamente com as previsões de especialistas sobre o futuro. Esses experts mais erram do que acertam, mas nem por isso deixamos de recorrer a eles sempre que o horizonte se anuvia. Como explicar o paradoxo?
Uma boa tentativa é o recém-lançado livro do escritor e jornalista Dan Gardner. As passagens mais divertidas do livro são sem dúvida aquelas em que o autor mostra, com exemplos e pesquisas científicas, quão precária é a previsão econômica e política.
Num célebre discurso de 1977, por exemplo, o então presidente dos E.U.A., Jimmy Carter, ancorado nos conselhos dos principais experts do planeta, conclamou os americanos a reduzir drasticamente a dependência de petróleo de sua economia, porque os preços do hidrocarboneto subiriam e jamais voltariam a cair, o que inevitavelmente destruiria o “American way”*. Oito anos depois, as cotações do óleo despencaram e permaneceram baixas pelas duas décadas seguintes.
Alguém pode alegar que Gardner escolhe de propósito alguns exercícios de futurologia que deram errado apenas para ridicularizar a categoria toda.
Para refutar essa objeção, vamos conferir algumas abordagens do problema.
Em 1984, uma revista britânica pediu a 16 pessoas que fizessem previsões sobre taxas de crescimento, câmbio, inflação e outros dados econômicos. Quatro dos entrevistados eram ex-ministros de finanças; quatro eram presidentes de empresas multinacionais; quatro, estudantes de economia de Oxford; e quatro, lixeiros de Londres. Uma década depois, as predições foram contrastadas com a realidade e classificadas pelos níveis de acerto. Os lixeiros terminaram empatados com os presidentes de corporações em primeiro lugar. Em último, ficaram os ministros – o que ajuda a explicar uma ou outra coisinha sobre governos.
A razão para tantas dificuldades em adivinhar o futuro é de ordem física. Nós nos habituamos a ver a ciência prevendo com enorme precisão fenômenos como eclipses e marés. Só que esses são sistemas lineares ou, pelo menos, sistemas em que dinâmicas impostas pelo caos podem ser desprezadas. E, embora um bom número de fenômenos naturais seja linear, existem muitos que não o são. Quando o homem faz parte da equação, pode-se esquecer a linearidade.
Nossos cérebros também trazem de fábrica alguns vieses que tornam nossa espécie presa fácil para adivinhos. Procuramos tão avidamente por padrões que os encontramos até mesmo onde não existem. Temos ainda compulsão por histórias, além de um desejo irrefreável de estar no controle. Assim, alguém que ofereça numa narrativa simples e envolvente a previsão do futuro pode vendê-la facilmente a incautos. Não é por outra razão que oráculos, profecias e augúrios estão presentes em quase todas as religiões.
Como diz Gardner, “vivemos na Idade da Informação, mas nossos cérebros são da Idade da Pedra”. Eles não foram concebidos para processar o papel do acaso, no cerne do conhecimento científico atual. Nós continuamos a tratar as falas dos especialistas como se fossem auspícios** divinos. Como não poderia deixar de ser, frequentemente quebramos a cara.

HÉLIO SCHWARTSMAN
Adaptado de www1.folha.uol.com.br, 30/06/2011

(*)“American way”: estilo americano de vida
(**)auspícios: prenúncios, presságios


4. (Uerj 2012)  O texto de Hélio Schwartsman distingue fenômenos que podem ser previstos com precisão de outros que não o podem.
Apresente um exemplo do texto para os fenômenos do primeiro tipo e outro para os fenômenos do segundo tipo.
Depois, aponte o que, para o autor, distingue os dois tipos de fenômeno.


Resposta:

O texto de Hélio Schwartsman distingue fenômenos que podem ser previstos com precisão (marés, eclipses, fenômenos naturais, sistemas lineares e outros em que dinâmicas impostas pelo caos podem ser desprezadas) de outros que não o podem (taxas de câmbio, preços do petróleo, de crescimento, quaisquer dados econômicos, fenômenos em que há a presença do homem). Segundo o autor, a diferenciação entre eles reside na linearidade ou não dos fenômenos, assim como a presença ou não do ser humano na produção dos fenômenos.




TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
A CIDADE SITIADA
(1949)

O subúrbio de S. Geraldo, no ano de 192..., já misturava ao cheiro de estrebaria algum progresso. Quanto mais fábricas se abriam nos arredores, mais o subúrbio se erguia em vida própria sem que os habitantes pudessem dizer que transformação os atingia. Os movimentos já se haviam congestionado e não se poderia atravessar uma rua sem desviar-se de uma carroça que os cavalos vagarosos puxavam, enquanto um automóvel impaciente buzinava atrás lançando fumaça. Mesmo os crepúsculos eram agora enfumaçados e sanguinolentos. De manhã, entre os caminhões que pediam passagem para a nova usina, transportando madeira e ferro, as cestas de peixe se espalhavam pela calçada, vindas através da noite de centros maiores. Dos sobrados desciam mulheres despenteadas com panelas, os peixes eram pesados quase na mão, enquanto vendedores em manga de camisa gritavam os preços. E quando sobre o alegre movimento da manhã soprava o vento fresco e perturbador, dir-se-ia que a população inteira se preparava para um embarque.
Ao pôr-do-sol galos invisíveis ainda cocoricavam. E misturando-se ainda à poeira metálica das fábricas o cheiro das vacas nutria o entardecer. Mas de noite, com as ruas subitamente desertas, já se respirava o silêncio com desassossego, como numa cidade; e nos andares piscando de luz todos pareciam estar sentados. As noites cheiravam a estrume e eram frescas. Às vezes chovia.
(LISPECTOR, Clarice. A Cidade sitiada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.)



5. (Uerj 2005)  No texto, o crescimento de um subúrbio é representado como uma força que se impõe aos habitantes.

a) Transcreva duas orações que, apresentando como núcleo do sujeito um substantivo referente a um ser humano, confirmam essa perspectiva.
b) Explique a afinidade que há entre esse modo de representar o ambiente e um movimento literário surgido no Brasil no final do século XIX.


Resposta:

a) Algumas das orações são:
- os habitantes pudessem dizer
- desciam mulheres despenteadas
- a população inteira se preparava
- vendedores em manga de camisa gritavam

b) O texto privilegia a caracterização do ambiente físico e local, colocando tipos humanos como simples elementos integrantes do meio, à semelhança do naturalismo literário. 


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