TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
O que sonhei
ser e não fui
Aos
sete anos, projetava que minha vida estaria resolvida aos 37. Administraria
somente a felicidade. Dei o prazo de três décadas para não me preocupar. Talvez
o paraíso naquela época fosse cabular temas, não ir à escola, muito menos ser
submetido às provas. Não mirabolava encargos, superações e dificuldades. Até
porque a vida adulta é distante, uma velhice para criança.
Recordo
a atmosfera do que imaginava. A sensação de alívio do futuro. A felicidade
seria estável e permanente. Era uma fórmula que deveria encontrar e adotá-la no
restante dos dias. Algo como a receita de galinha recheada da avó.
Uma
vez feito o prato, ele se repetiria eternamente. Não enxergava o estado
provisório e fugaz do sentimento, um clarão que nos ajuda a suportar depois o
escuro. Hoje entendo que a felicidade é rara, relampeia, olhamos onde estão
nossas coisas e seguimos tateando com mais facilidade.
Não
sou sinônimo de sucesso. Moro provisoriamente na residência materna, tenho duas
separações, sequer possuo algum imóvel. Deixei duas vidas, duas casas, tudo que
construí e acumulei ficou para trás. Caso não tivesse me divorciado, estaria
confortável e poderia investir na Bolsa de Valores. Guardo a biblioteca em
centenas de caixas na garagem, não há como consultar os livros. Os rendimentos
são subjetivos, provados pelos extratos bancários.
Mas
não pretendo ser diferente, não entrarei no apartamento de amigos ricos e
fingirei igualdade. Não peço emprestados outros mundos para aliviar o meu.
Estou contaminado das manias para mudar.
Apesar
da fragilidade, não me coloco como um coitado, uma vítima de decisões erradas.
A cada mês, sou obrigado a inventar um salário. É assustador e delicioso. Eu
perco meu emprego todos os dias. Enviúvo compromissos e caso com expectativas.
A rotina não é interrompida por finais de semana. Domingo e terça-feira são
iguais. Não me formei em medicina para justificar plantões, ocupo a família com
minhas desocupações.
Espumo
águas paradas. Qualquer desastre não é trágico. Qualquer desmemória não é o
fim. 1Sou rápido o suficiente para me digitar de novo. Desde o
início. Não desmereço as frases porque já foram escritas.
Os
filhos não se acostumaram com a atmosfera instável, acham que sofro à toa e que
me alegro ainda mais à toa. A namorada tenta esclarecer as extravagâncias. Na
casa dela, não consigo relaxar. Passo aspirador, lustro mesas, lavo a louça e
dobro as roupas para brincar que é minha casa. Ela enlouquece, mas sua ternura
atrapalha a raiva. Sinto saudade de varrer a rua. Saudade não é arrependimento.
Há
gente que se gaba em dizer que cumpriu o sonho dos sete anos. Seguiram à risca
a ambição de pequenos.
Eu
fico com dó da coerência. Desse jogador de futebol que não admitiu a confusão
vocacional. Dessa bailarina que não desobedeceu ao contexto. Desse cantor que
não reparou na encruzilhada.
Nossa
cultura valoriza demais o planejamento. Como se a linha reta fosse uma virtude.
Eu
não fui o que minha infância traçou. Aquilo era fantasia. O que sei fazer é
recomeçar e frustrar condicionamentos.
Para
um escritor, seria uma enorme falta de criatividade ser o que imaginei quando
criança.
(CARPINEJAR,
Fabrício. Mulher perdigueira: crônicas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2010.)
1.
(Ufrj 2011) Na elaboração de um texto,
é possível explorar os mecanismos da coordenação e da subordinação na
estruturação discursiva com o intuito de conferir vigor à expressão.
Explique de que modo a estruturação
do sétimo e do décimo parágrafos da crônica de Fabrício Carpinejar, transcritos
abaixo, está em sintonia com o conteúdo.
(7º parágrafo) “Espumo águas paradas.
Qualquer desastre não é trágico. Qualquer desmemória não é o fim. Sou rápido o
suficiente para me digitar de novo. Desde o início. Não desmereço as frases
porque já foram escritas.”
(10º parágrafo) “Eu fico com dó da
coerência. Desse jogador de futebol que não admitiu a confusão vocacional.
Dessa bailarina que não desobedeceu ao contexto. Desse cantor que não reparou
na encruzilhada.”
Resposta:
No sétimo parágrafo, sobressai a coordenação que confere vigor à
expressão da necessidade de mudança/movimento na vida ou reinvenção da vida,
explicitada, particularmente na passagem “Espumo águas paradas.”
No décimo parágrafo, tem
destaque subordinação e coordenação. A subordinação dos três termos
preposicionados (“Desse jogador ... vocacional.”, “Dessa bailarina ... ao
contexto.” e “Desse cantor ... na encruzilhada”) a substantivo do primeiro
período é estruturada por meio de uma pontuação diferente da esperada. Com essa
estruturação, ressalta-se a necessidade do inesperado, de uma aparente
incoerência. A coordenação, por sua vez, cria um paralelismo que assegura o
entendimento de uma sequência de exemplos para o tipo de coerência que causa
dó.
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
Texto 2
CAPÍTULO
LXIII / TABULETA NOVA
Era um simples fabricante e
vendedor de doces, estimado, afreguesado, respeitado, e principalmente
respeitador da ordem pública...
- Mas o que é que há?
perguntou Aires.
- A república está proclamada.
- Já há governo?
- Penso que já; mas diga-me
V. Ex.a: ouviu alguém acusar-me jamais de atacar o governo?
Ninguém. Entretanto... Uma fatalidade! Venha
em meu socorro. Excelentíssimo. Ajude-me a sair deste embaraço. A tabuleta está
pronta, o nome todo pintado. – “Confeitaria do Império”, a tinta é viva
e bonita. O pintor teima em que lhe pague o trabalho, para então fazer outro.
Eu, se a obra não estivesse acabada, mudava de título, por mais que me
custasse, mas hei de perder o dinheiro que gastei? V. Ex.a crê que,
se ficar “Império”, venham quebrar-me as vidraças?
- Isso não sei.
- Realmente, não há motivo;
é o nome da casa, nome de trinta anos, ninguém a conhece de outro modo.
- Mas pode pôr “Confeitaria
da República”...
1- Lembrou-me isso, em
caminho, mas também me lembrou que, se daqui a um ou dous meses, houver nova
reviravolta, fico no ponto em que estou hoje, e perco outra vez o dinheiro.
- Tem razão... Sente-se.
- Estou bem.
- Sente-se e fume um
charuto.
Custódio recusou o charuto, não fumava. Aceitou
a cadeira. Estava no gabinete de trabalho, em que algumas curiosidades lhe
chamariam a atenção, se não fosse o atordoamento do espírito. Continuou a
implorar o socorro do vizinho. S. Ex.a, com a grande inteligência
que Deus lhe dera, podia salvá-lo. Aires propôs-lhe um meio-termo, um título
que iria com ambas as hipóteses, - “Confeitaria do Governo”.
- Tanto serve para um
regímen como para outro.
[ASSIS, Machado de. Esaú
e Jacó. In: Obra Completa. vol. 3. Rio de Janeiro: Nova Aguilar,
1975, p.1028-1029.]
2.
(Pucrj 2010) a)
Reescreva os
períodos a seguir, alterando-os conforme as indicações dadas, fazendo para isso as adaptações cabíveis.
I) Passe para o futuro do
subjuntivo o verbo da oração condicional:
Eu, se a
obra não estivesse acabada, mudava de título, por mais que me custasse.
II) Transforme a coordenação
assindética em coordenação sindética:
Custódio recusou o charuto, não fumava.
III) Passe para o discurso
indireto a fala de Custódio:
– Realmente, não há motivo; é o nome da casa, nome de trinta
anos, ninguém a conhece de outro modo.
b)
Qual o sujeito
da frase Lembrou-me isso, em caminho, na ref. 1 do Texto 2?
Resposta:
a)
I) Eu, se a obra ainda não
estiver acabada, mudarei de título, por mais que me custe.
II) Custódio recusou o charuto,
pois não fumava.
III) Custódio disse que não
havia realmente motivo, argumentando que aquele era o nome da casa, um nome de
trinta anos, e que ninguém a conhecia de outro modo.
b)
O sujeito é isso.
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
O EX- CINECLUBISTA
(João Gilberto Noll)
Aquele
homem meio estrábico, ostentando um mau humor maior do que realmente poderia
dedicar a quem lhe cruzasse o caminho e que agora entrava no cinema, numa
segunda-feira à tarde, para assistir a um filme nem tão esperado, a não ser
entre pingados amantes de cinematografias de cantões os mais exóticos, aquele
homem, sim, sentou-se na sala de espera e chorou, simplesmente isso: chorou.
Vieram lhe trazer um copo d'água logo afastado, alguém sentou-se ao lado e lhe
perguntou se não passava bem, mas ele nada disse, rosnou, passou as narinas
pela manga, levantou-se num ímpeto e assistiu ao melhor filme em muitos meses,
só isso. Ao sair do cinema, chovia. Ficou sob a marquise, à espera da estiagem.
Tão absorto no filme que se esqueceu de si. E não soube mais voltar.
3. (Ufrj 2008) O texto procura reproduzir na escrita uma característica da linguagem
cinematográfica: "o filme, sob o ponto de vista formal, pode ser
considerado como uma sequência de espaços e tempos concretamente apresentados
pela imagem."
("Enciclopédia
Mirador-Internacional", s.v. cinema - 13.1.1).
Justifique
a afirmativa, tomando por base a organização do plano sintático do texto.
Resposta:
A
sequência de espaços (dentro e fora do cinema) e de tempos (antes e depois de
assistir ao filme) manifesta-se na predominância de estruturas coordenadas, no
passado, numa sequência rápida de ações ("rosnou", "passou as
narinas pelas mangas", "levantou-se", "assistiu ao
filme"), e com rupturas ("aquele homem meio estrábico" [...],
"aquele homem, sim," [...]). Esses elementos sintáticos representam
alguns dos recursos que, na linguagem escrita, buscam reproduzir a linguagem
cinematográfica.
4. (Ita 2004) Leia o texto abaixo e responda à questão seguinte:
Solar
Minha
mãe cozinhava exatamente:
arroz,
feijão-roxinho, molho de batatinhas.
Mas
cantava.
(PRADO, Adélia. "O coração
disparado". Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.)
Nesse
pequeno poema, a escritora Adélia Prado consegue não só registrar um traço
singular do cotidiano da própria mãe, como também constrói dessa mulher um
retrato, que apresenta duas facetas: uma, relativa à posição social e outra, ao
temperamento. Particularize essas duas facetas e aponte como a estruturação
sintática as instaura.
Resposta:
O
fato da mãe preparar a própria comida e
de ser uma comida simples, que representa a alimentação de uma classe social
média à baixa, deixa clara a ideia de a mãe ser uma mulher simples, do lar.
Usar
a Conjunção adversativa "mas", no trecho: "Mas cantava",
demonstra que, mesmo sendo do lar e simples, era feliz, pois o ato de cantar
representa satisfação, leveza, alegria, e isso nos dá a ideia do temperamento
da mãe.
5. (Fuvest 2004) I. Desespero meu: leitura obrigatória de livro indicado...
II.
Uma surpresa: tão bom, aquele livro!
III.
Nenhum aborrecimento na leitura.
a)
Respeitando a sequência em que estão apresentadas as três frases acima,
articule-as num único período. Empregue os verbos e os nexos oracionais
necessários à clareza, à coesão e à coerência desse período.
b)
Transcreva o período abaixo, virgulando-o adequadamente:
A
obrigação de ler um livro como toda obrigação indispõe-nos contra a tarefa
imposta mas pode ocorrer se encontrarmos prazer nessa leitura que o peso da
obrigação desapareça.
Resposta:
a)
Desespero meu: leitura obrigatória de livro, no entanto foi uma surpresa, pois
era muito bom aquele livro, cuja leitura não causou nenhum aborrecimento.
b)
A obrigação de ler um livro, como toda obrigação, indispõe-nos contra a tarefa
imposta, mas pode ocorrer, se encontrarmos prazer nessa leitura, que o peso da
obrigação desapareça.
Link para questões de outras disciplinas: http://araoalves.blogspot.com.br/
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