terça-feira, 25 de junho de 2013

Uerj - questões de português - gabarito comentado






TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Ode1 para o futuro

Falareis de nós como de um sonho.
Crepúsculo dourado. Frases calmas.
Gestos vagarosos. Música suave.
Pensamento arguto2. Sutis sorrisos.
Paisagens deslizando na distância.
Éramos livres. Falávamos, sabíamos,
e amávamos serena e docemente.

Uma angústia delida3, melancólica,
sobre ela sonhareis.

E as tempestades, as desordens, gritos,
violência, escárnio4, confusão odienta5,
primaveras morrendo ignoradas
nas encostas vizinhas, as prisões,
as mortes, o amor vendido,
as lágrimas e as lutas,
o desespero da vida que nos roubam
- apenas uma angústia melancólica,
sobre a qual sonhareis a idade de ouro.

E, em segredo, saudosos, enlevados6,
falareis de nós - de nós! - como de um sonho.

JORGE DE SENA
www.letras.ufrj.br

1 ode: tipo de poema
2 arguto: capaz de perceber as coisas mais sutis
3 delida: apagada
4 escárnio: desdém, menosprezo
5 odienta: que inspira aversão, ódio
6 enlevados: maravilhados, extasiados


1. (Uerj 2012)  As imagens positivas presentes na 1ª estrofe do poema, como Frases calmas (v. 2), opõem-se às imagens negativas da 3ª estrofe, como confusão odienta (v. 11).
Explique a que se referem as imagens positivas da 1ª estrofe e a que se referem as imagens negativas da 3ª estrofe.


Resposta:

As imagens positivas da 1ª estrofe representam a visão idealizada que o futuro construirá acerca do presente, enquanto as imagens negativas da 3ª estrofe se referem aos acontecimentos reais vividos pelo sujeito poético nesse mesmo presente.




TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 3 QUESTÕES:
Como e porque sou romancista

Minha mãe e minha tia se ocupavam com trabalhos de costuras, e as amigas para não ficarem ociosas as ajudavam. Dados os primeiros momentos à conversação, 2passava-se à leitura e era eu chamado ao lugar de honra.
Muitas vezes, confesso, essa honra me arrancava bem a contragosto de um sono começado ou de um folguedo querido; 3já naquela idade a reputação é um fardo e bem pesado.
Lia-se até a hora do chá, e tópicos havia tão interessantes que eu era obrigado à repetição. Compensavam esse excesso, as pausas para dar lugar às expansões do auditório, o qual desfazia-se em recriminações contra algum mau personagem, ou acompanhava de seus votos e simpatias o herói perseguido.
Uma noite, daquelas em que eu estava mais possuído do livro, 4lia com expressão uma das páginas mais comoventes da nossa biblioteca. As senhoras, de cabeça baixa, levavam o lenço ao rosto, e poucos momentos depois não puderam conter os soluços 8que rompiam-lhes o seio.
Com a voz afogada pela comoção e a vista empanada pelas lágrimas, eu também cerrando ao peito o livro aberto, disparei em pranto e respondia com palavras de consolo às lamentações de minha mãe e suas amigas.
Nesse instante assomava à porta um parente nosso, o Revd.º Padre Carlos Peixoto de Alencar, já assustado com o choro que ouvira ao entrar – 6Vendo-nos a todos naquele estado de aflição, ainda mais perturbou-se:
- Que aconteceu? Alguma desgraça? Perguntou arrebatadamente.
As senhoras, escondendo o rosto no lenço para ocultar do Padre Carlos o pranto e evitar seus 1remoques, não proferiram palavra. Tomei eu a mim responder:
7- Foi o pai de Amanda que morreu! Disse, mostrando-lhe o livro aberto.
Compreendeu o Padre Carlos e soltou uma gargalhada, como ele as sabia dar, verdadeira gargalhada homérica, que mais parecia uma salva de sinos a repicarem do que riso humano. E após esta, outra e outra, que era ele inesgotável, quando ria de abundância de coração, com o gênio prazenteiro de que a natureza o dotara.
Foi essa leitura contínua e repetida de novelas e romances que primeiro imprimiu em meu espírito a tendência para essa forma literária [o romance] que é entre todas a de minha predileção?
1Não me animo a resolver esta questão psicológica, 5mas creio que ninguém contestará a influência das primeiras impressões.

JOSÉ DE ALENCAR
Como e porque sou romancista. Campinas: Pontes, 1990.

1remoque: zombaria, caçoada


2. (Uerj 2011)  que rompiam-lhes o seio. (ref. 8)

O vocábulo sublinhado faz referência a uma palavra já enunciada no texto.
Essa palavra a que se refere o vocábulo lhes é:
a) soluços   
b) páginas   
c) senhoras   
d) momentos   


Resposta:

[C]

O pronome oblíquo átono “lhes”, em função de objeto indireto do verbo “rompiam”, remete a “senhoras”.



  
3. (Uerj 2011)  Não me animo a resolver esta questão psicológica, mas creio que ninguém contestará a influência das primeiras impressões. (ref. 1)

Ao final do texto o autor levanta uma questão, mas diz que não pode resolvê-la. Entretanto, a segunda parte da frase sugere que o autor tem uma resposta.

Este é um conhecido processo retórico, pelo qual o autor adota o procedimento indicado em:
a) criticar para negar   
b) negar para afirmar   
c) duvidar para justificar   
d) reconhecer para criticar   


Resposta:

[B]

Ao afirmar que não pode resolver a questão, mas, em seguida, sugerir que possui uma resposta, o autor faz uso de uma figura de retórica, a litotes, que consiste em usar a negação como modo de afirmação.



  
4. (Uerj 2011)  Vendo-nos a todos naquele estado de aflição, (ref. 6)

O fragmento acima poderia ser reescrito, com o emprego de um conectivo.
A reescritura que preserva o sentido original do fragmento é:
a) caso nos visse a todos naquele estado de aflição.   
b) porém nos viu a todos naquele estado de aflição.   
c) quando nos viu a todos naquele estado de aflição.   
d) não obstante nos ver a todos naquele estado de aflição.   


Resposta:

[C]

A oração reduzida de gerúndio pode ser desenvolvida através de uma subordinada adverbial temporal, “quando nos viu a todos naquele estado de aflição”. Ao contrário das outras opções, a),b) e d), que expressam circunstâncias de condição, adversidade e concessão, respectivamente, a frase citada configura o momento em que o Padre Carlos se perturba pela cena comovente e indaga sobre o que se estava a passar.




TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Competição e individualismo excessivos ameaçam saúde dos trabalhadores

Ideologia do individualismo
            O novo cenário mundial do trabalho apresenta facetas como a da competição globalizada e a da ideologia do individualismo. A afirmação foi feita pelo professor da Universidade de Brasília (UnB) Mário César Ferreira, ao participar do seminário Trabalho em Debate: Crise e Oportunidades.
            Segundo ele, pela primeira vez, há uma ligação direta entre trabalho e índices de suicídio, sobretudo na França, em função das mudanças focadas na ideia de excelência.

Fim da especialização
            2“A configuração do mundo do trabalho é cada vez mais volátil”, disse o professor. Ele destacou ainda a crescente expansão do terceiro setor, do trabalho em domicílio e do trabalho feminino, bem como a exclusão de perfis como o de trabalhadores jovens e dos fortemente especializados. “As organizações preferem perfis polivalentes e multifuncionais.” Desta forma, a escolarização clássica do trabalhador amplia-se para a qualificação contínua, enquanto a ultraespecialização evolui para a multiespecialização.

Metamorfoses do trabalho
            1Ele ressaltou que as “metamorfoses” no cenário do trabalho não são “indolores” para os que trabalham e provocam erros frequentes, retrabalho, danificação de máquinas e queda de produtividade.
            3Outra grande consequência, de acordo com o professor, diz respeito à saúde dos trabalhadores, que leva à alta rotatividade nos postos de trabalho e aos casos de suicídio. 4“Trata-se de um cenário em que todos perdem, a sociedade, os governantes e, em particular, os trabalhadores”, avaliou.

Articulação entre econômico e social
            Para a coordenadora da Diretoria de Cooperação e Desenvolvimento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Christiane Girard, a problemática das relações de trabalho envolve também uma questão: 5qual o tipo de desenvolvimento que nós, como cidadãos, queremos ter?
            Segundo Christiane, é preciso “articular” o econômico e o social, como acontece na economia solidária.
            “Ela é uma das alternativas que aparecem e precisa ser discutida. 6A resposta do trabalhador se manifesta por meio do estresse, de doenças diversas e do suicídio. A gente não se pergunta o suficiente sobre o peso da gestão do trabalho”, disse a representante do Ipea.

Adaptado de www.diariodasaude.com.br


5. (Uerj 2011)  Dentre as palavras usadas no texto para descrever o novo regime de trabalho, uma delas implica uma contradição nos próprios termos, ou seja, uma palavra cuja composição contém elementos que se opõem.
A palavra formada por elementos que sugerem sentidos opostos é:
a) terceirização   
b) escolarização   
c) ultraespecialização   
d) multiespecialização   


Resposta:

[D]

“Multi” é elemento de formação de palavras que sugere “muito”, um prefixo produtivo que, ao ser associado a “especialização”, gera a contradição do termo “multiespecialização”. Se a especialização sugere o conhecimento particular ou singular sobre uma determinada área do trabalho, o prefixo “multi” expressa multiplicidade. 




TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Um futuro sombrio

            No romance Fahrenheit 451 (1953), Ray Bradbury imagina um futuro sombrio no qual os bombeiros se dedicam não a apagar incêndios mas sim a queimar livros, especialmente de ficção. Segundo o romance, como se chegou a esse futuro?
            À proporção que a chamada vida moderna se acelerou, os livros se reduziram primeiro a breves resumos de poucas páginas, depois a emissões radiofônicas de quinze minutos, por fim a no máximo dez linhas em um dicionário. As universidades pararam de produzir professores. Em todos os lugares, espalharam-se “joke-boxes”, ou seja: caixas de música que, em vez de tocar música, apenas contam piadas. A palavra “intelectual” se converteu em um xingamento.
            Como as casas não pegavam mais fogo, os antigos bombeiros passaram a ter o trabalho de queimar todos os livros do mundo. Junto com os livros, eles agora queimam também as pessoas que não desistem de ler. Um bombeiro chamado Montag, porém, lê os livros que deveria queimar. Quando chega a vez de queimarem os seus livros e a ele mesmo, consegue fugir. Na fuga, Montag encontra várias pessoas que vivem nas florestas como nômades, ocupando-se em guardar de memória os livros que leram. São bibliotecas ambulantes disfarçadas de mendigos.

            Um deles lhe explica no que eles acreditam: “A coisa mais importante que tivemos de meter na cabeça é que nós não éramos importantes, que não devíamos ser pedantes: nós não nos sentíamos superiores a ninguém mais neste mundo. Somos nada mais do que as capas empoeiradas dos livros, sem qualquer valor intrínseco.” Ao dizer que eles não são “mais do que as capas empoeiradas dos livros”, o homem-livro enfatiza a preocupação de guardar aquilo que torna os seres humanos melhores e maiores.
            Depois de ser apresentado a esses homens, Montag vê que a cidade mais próxima se transforma num clarão. Os Estados Unidos finalmente parecem ter sido atingidos por uma bomba atômica (a cena é imaginada quase quarenta anos antes da queda das torres gêmeas).
            Ao encontrarem os sobreviventes solitários e perdidos, os homens-livros dizem que eles estão ali para lembrar. Eis como pretendem vencer a longo prazo: de tanto recordarem, acabarão por escavar a maior sepultura de todos os tempos para nela enterrar nada mais nada menos do que a guerra. Os livros que começam a devolver às pessoas se revelarão espelhos nos quais todos podem voltar a se observar longamente.

CLÁUDIO CANO
Adaptado de http://blogderesenhas.com.br


6. (Uerj 2011)  A resenha do romance Fahrenheit 451 menciona dois problemas também evocados pelos personagens da tirinha.




Identifique um desses problemas e, em seguida, descreva a solução apontada para ele no romance, segundo a resenha.


Resposta:

O romance, cujo título remete à temperatura a que se incendeia o papel, apresenta um futuro onde todos os livros são proibidos, opiniões próprias são consideradas antissociais e hedonistas e o pensamento crítico é suprimido. Os problemas abordados são muitos e variados (Indivíduo vs. Sociedade, Conhecimento vs. Ignorância, Tecnologia, Desintegração da Sociedade, Censura incitada pela sociedade), dois deles mencionados também na tirinha de Mafalda: aceleração da vida moderna e guerra. O último parágrafo da resenha mostra que o restabelecimento do contato com os livros permite que os homens voltem a refletir e acabem com a guerra (“Eis como pretendem vencer a longo prazo: de tanto recordarem, acabarão por escavar a maior sepultura de todos os tempos para nela enterrar nada mais nada menos do que a guerra”).




TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Juventude e participação

Inicialmente, gostaria de destacar que toda avaliação é feita a partir de uma comparação. Neste caso, essa comparação poderia ser feita em duas direções. Uma delas em relação a outras faixas etárias e a outra em relação à juventude de épocas passadas. Em relação à primeira dimensão, me parece que o comportamento político da juventude não seja diferente do de outras faixas etárias. 1Os que avaliam como baixa a participação política da juventude atual não podem afirmar que seja diferente da participação política das outras faixas. 10Existem parcelas da população passivas (e entre elas há jovens e também adultos), assim como existem parcelas da população com alta taxa de participação política, e entre elas podemos igualmente identificar jovens e adultos.
Logo, uma comparação entre faixas etárias não nos leva a concluir que seja baixa a participação política da juventude. Agora, em relação à outra dimensão, a comparação entre juventudes de épocas diferentes, podemos constatar diferenças que aparentemente levem algumas pessoas a afirmações do tipo “a juventude atual não está com nada”, “antigamente os jovens tinham maior consciência e atuação política”. E aqui, novamente, 11devemos analisar a questão por partes. Jovens alienados e passivos sempre existiram ao lado de jovens conscientizados e ativos politicamente.
9Deve-se reconhecer que 5a proporção entre essas duas categorias muda com o tempo, 12tem épocas em que a proporção de jovens ativos se amplia e em outras épocas diminui. Mas esse aumento ou diminuição é uma expressão da sociedade como um todo e não de uma determinada faixa etária. Se numa época a parcela de jovens cresce e se torna mais intensa, 6é porque esse mesmo fenômeno se manifesta na sociedade como um todo. 2O comportamento juvenil expressa as tendências gerais da sociedade como um todo.
3A grande diferença está nos meios de que dispõem os jovens para desenvolver sua consciência crítica 7ou para manifestar sua postura política. Aí, sim, registramos mudanças radicais em relação a outras épocas.
4Atualmente, os jovens têm acesso aos meios de comunicação que permitem ampliar a velocidade e a abrangência da transmissão de ideias, o que oferece facilidades nunca antes disponíveis para a expressão política da juventude.
A minha resposta pode parecer otimista 8e tenho plena consciência de que ela é. Os jovens da atualidade não são diferentes dos jovens de outras épocas, aceitam ou rechaçam valores, assumem ou não atitudes políticas com a mesma postura dos jovens do passado, a diferença não está no grau e sim na forma. 13Não muda o caminho, muda a forma de caminhar.

LUÍS DE LA MORA
Adaptado de www.cipo.org.br


7. (Uerj 2009)  Ideologia

Meu partido
É um coração partido
E as ilusões estão todas perdidas
Os meus sonhos foram todos vendidos
Tão barato que eu nem acredito
Eu nem acredito
Que aquele garoto que ia mudar o mundo
(Mudar o mundo)
Frequenta agora as festas do “Grand Monde”

Meus heróis morreram de overdose
Meus inimigos estão no poder
Ideologia
Eu quero uma pra viver
Ideologia
Eu quero uma pra viver

O meu prazer
Agora é risco de vida
Meu sex and drugs não tem nenhum rock ‘n’ roll
Eu vou pagar a conta do analista
Pra nunca mais ter que saber quem eu sou
Pois aquele garoto que ia mudar o mundo
(Mudar o mundo)
Agora assiste a tudo em cima do muro

Meus heróis morreram de overdose
Meus inimigos estão no poder
Ideologia
Eu quero uma pra viver
Ideologia
Eu quero uma pra viver

CAZUZA e ROBERTO FREJAT - 1988
www.cazuza.com.br
Depoimentos

“Outras formas e espaços existem nos movimentos culturais, campesino, sindical, comunitário, nas lutas contra o racismo, o machismo, a homofobia e muitas outras. Sem falar nos espaços criados pelo governo, as várias conferências, dos mais variados temas, em que precisamos participar cada vez mais, levar a cara e a voz da juventude. Sem falar, é claro, no voto, de que não podemos abrir mão.”
THIAGO FRANCO
Presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas - UBES

“A participação política possibilitou que eu pudesse ter uma leitura crítica da sociedade, que eu conseguisse perceber coisas como as campanhas políticas, que não são contos de fadas. Consigo, com a base que adquiri e a minha experiência no movimento social, ter uma visão política sobre a realidade, sobre o momento em que vivemos, as eleições. Principalmente hoje, consigo trabalhar para que as pessoas próximas a mim também tenham esse olhar crítico e estejam preparadas para fazer suas escolhas.”
EMERSON QUARESMA
23 anos, repórter do jornal A Crítica e articulador da rede
Sou de Atitude no Amazonas
www.joveneslac.org

Os textos Juventude e participação, Ideologia e os dois depoimentos tratam da juventude e de sua participação na política e na sociedade.
No entanto, entre a perspectiva apresentada na letra da música de Cazuza e Frejat e o que se manifesta nos outros textos se estabelece uma diferença principal em relação ao seguinte elemento:
a) repercussão das ações políticas dos jovens   
b) valorização da herança política do passado   
c) confiança nos efeitos da participação política   
d) importância das novas formas de participação dos jovens   


Resposta:

[C]

A letra da música de Cazuza e Frejat exprime  a melancolia do eu lírico perante a consciência da sua vida alienada, em contraste com o seu passado de militante ativo. A morte dos seus ídolos políticos e a ascensão dos opositores (“Meus heróis morreram de overdose/Meus inimigos estão no poder”) causam a sensação de desencanto e a falta de confiança nos efeitos da participação política, o que não acontece em “Juventude e participação”, “ Ideologia”, nem nos depoimentos apresentados.




TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Ideologia

Meu partido
É um coração partido
E as ilusões estão todas perdidas
Os meus sonhos foram todos vendidos
Tão barato que eu nem acredito
Eu nem acredito
Que aquele garoto que ia mudar o mundo
(Mudar o mundo)
Frequenta agora as festas do “Grand Monde”

Meus heróis morreram de overdose
Meus inimigos estão no poder
Ideologia
Eu quero uma pra viver
Ideologia
Eu quero uma pra viver

O meu prazer
Agora é risco de vida
Meu sex and drugs não tem nenhum rock ‘n’ roll
Eu vou pagar a conta do analista
Pra nunca mais ter que saber quem eu sou
Pois aquele garoto que ia mudar o mundo
(Mudar o mundo)
Agora assiste a tudo em cima do muro

Meus heróis morreram de overdose
Meus inimigos estão no poder
Ideologia
Eu quero uma pra viver
Ideologia
Eu quero uma pra viver

CAZUZA e ROBERTO FREJAT - 1988
www.cazuza.com.br


8. (Uerj 2009)  A palavra “ideologia” é dicionarizada ora como “conjunto de ideias, pensamentos, doutrinas e visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo”, ora como “conjunto de ideias que visa à manipulação e à alienação das pessoas”.
Os versos que melhor se relacionam à primeira e à segunda acepções, respectivamente, são:
a) “Os meus sonhos foram todos vendidos” / “Eu vou pagar a conta do analista” (v. 4 e 19)   
b) “Meus heróis morreram de overdose” / “É um coração partido” (v. 10 e 2)   
c) “Eu quero uma pra viver” / “Frequenta agora as festas do ‘Grand Monde’” (v. 13 e 9)   
d) “Meu sex and drugs não tem nenhum rock’n’roll” / “(Mudar o mundo)” (v. 18 e 22)   


Resposta:

[C]

O eu lírico expressa o desejo de voltar a defender as ideias e doutrinas (“eu quero uma para viver”) e reiniciar a sua participação política, libertando-se do mundo de alienação em que vive (“Frequenta agora as festas do `Grand Monde´ ”).




TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Herói na contemporaneidade

1Quando eu era criança, passava todo o tempo desenhando super-heróis.
Recorro ao historiador de mitologia Joseph Campbell, que diferenciava as duas figuras públicas: o herói (figura pública antiga) e a celebridade (a figura pública moderna). Enquanto a celebridade se populariza por viver para si mesma, o herói assim se tornava por viver servindo sua comunidade. 2Todo super-herói deve atravessar alguma via crucis. Gandhi, líder pacifista indiano, disse que, quanto maior nosso sacrifício, maior será nossa conquista. Como Hércules, como Batman.
Toda história em quadrinhos traz em si alguma coisa de industrial e marginal, ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto. Os filmes de super-herói, ainda que transpondo essa cultura para a grande e famigerada indústria, realizam uma outra façanha, que provavelmente sem eles não ocorreria: a formação de novas mitologias reafirmando os mesmos ideais heroicos da Antiguidade para o homem moderno. O cineasta italiano Fellini afirmou uma vez que Stan Lee, o criador da editora Marvel e de diversos heróis populares, era o Homero dos quadrinhos.
Toda boa história de super-herói é uma história de exclusão social. Homem-Aranha é um nerd, Hulk é um monstro amaldiçoado, Demolidor é um deficiente, os X-Men são indivíduos excepcionais, Batman é um órfão, Super-Homem é um alienígena expatriado. 3São todos símbolos da solidão, da sobrevivência e da abnegação humanas.
Não se ama um herói pelos seus poderes, mas pela sua dor. Nossos olhos podem até se voltar a eles por suas habilidades fantásticas, mas é na humanidade que eles crescem dentro do gosto popular. Os super-heróis que não sofrem ou simplesmente trabalham para o sistema vigente tendem a se tornar meio bobos, como o Tocha-Humana ou o Capitão América.
Hulk e Homem-Aranha são seres que criticam a inconsequência da ciência, com sua energia atômica e suas experiências genéticas. Os X-Men nos advertem para a educação inclusiva. Super-Homem é aquele que mais se aproxima de Jesus Cristo, e por isso talvez seja o mais popular de todos, em seu sacrifício solitário em defesa dos seres humanos, mas também tem algo de Aquiles, com seu calcanhar que é a kriptonita. Humano e super-herói, como Gandhi.
4Não houve nenhuma literatura que tenha me marcado mais do que essas histórias em quadrinhos. Eu raramente as leio hoje em dia, mas quando assisto a bons filmes de super-heróis eu lembro que todos temos um lado ingênuo e bom, que pode ser capaz de suportar a dor da solidão por um princípio.
FERNANDO CHUÍ
Adaptado de http://fernandochui.blogspot.com


9. (Uerj 2009)  O método dedutivo organiza-se a partir de premissas gerais que são confirmadas por premissas particulares para se chegar a uma conclusão.
A frase do texto que evidencia uma premissa geral é:
a) “Quando eu era criança, passava todo o tempo desenhando super-heróis.” (ref. 1).   
b) “Todo super-herói deve atravessar alguma via crucis.” (ref. 2)   
c) “São todos símbolos da solidão, da sobrevivência e da abnegação humanas.” (ref. 3)   
d) “Não houve nenhuma literatura que tenha me marcado mais do que essas histórias em quadrinhos.” (ref. 4).   


Resposta:

[B]

Em A e D o autor apresenta vivências pessoais que auxiliam na demonstração da sua opinião e, em C, uma súmula dos exemplos citados anteriormente. Apenas em B está expressa a premissa geral que constitui a tese. 

Questões para outras disciplinas:




Bons estudos!!!!