1.
(Fuvest 2011) Os ventos alísios fazem
parte da circulação atmosférica global, soprando das zonas tropicais, de alta
pressão, para a zona equatorial, de baixa pressão, sendo responsáveis, por
exemplo, pelo transporte de umidade oceânica para o nordeste brasileiro. Esse
tipo de vento aparece no poema de João Cabral de Melo Neto “A escola das
facas”, publicado em 1980 no livro de mesmo nome, a seguir.
O alísio ao chegar ao Nordeste
baixa em coqueirais, canaviais;
cursando as folhas laminadas,
se afia em peixeiras, punhais.
Por isso, sobrevoada a Mata,
suas mãos, antes fêmeas, redondas,
ganham a fome e o dente da faca
com que sobrevoa outras zonas.
O coqueiro e a cana lhe ensinam,
sem pedra-mó, mas faca a faca
como voar o Agreste e o Sertão:
mão cortante e desembainhada.
a) Existe relação entre o que ocorre com o
“alísio”, ao chegar ao Nordeste, e a palavra “escola”, presente no título do
poema de João Cabral de Melo Neto? Explique.
b) A umidade do ar, trazida pelos ventos
alísios, diminui ao entrar no continente. Descreva e explique duas adaptações
evolutivas, relacionadas a esse fato, que diferenciam a vegetação da Zona da
Mata da vegetação do Sertão.
Resposta:
Questão interdisciplinar.
a) Comentário de Língua Portuguesa. De acordo com o enunciado, o
alísio sopra das zonas tropicais, de alta pressão, para a zona equatorial, de
baixa pressão, e transporta a umidade oceânica para o nordeste. Ou seja, a
baixa pressão atrai a umidade. Do mesmo modo, a baixa quantidade de mão de obra
dessa região atrai o trabalhador do Agreste e do Sertão. Assim como o alísio
transita pela região levando a umidade, os trabalhadores espalham-se pela
região cortando a cana e colhendo o coco: é a “escola” das facas. O trecho que
melhor explicita essa relação é: “O
coqueiro e a cana lhe ensinam, / sem pedra-mó, mas faca a faca / como voar o
Agreste e o Sertão: / mão cortante e desembainhada”.
b) Comentário de Geografia. Ao entrar pelo
interior do território, os ventos alísios perdem umidade no contato com as unidades
de relevo como a Chapada da Borborema. Nas áreas onde ocorre este contato
formam-se chuvas orográficas que permitem a existência da Zona da Mata,
recoberta por floresta tropical. O ar atravessa o relevo e chega ao Sertão com
baixa umidade, ajudando na formação de espécies vegetais xerófitas, cactáceas,
muito adaptadas à falta ou pouca água.
2.
(Fuvest 2013) Leia o texto.
Na mídia em geral, nos
discursos, em mensagens publicitárias, na fala de diferentes atores sociais,
enfim, nos diversos contextos em que a comunicação se faz presente,
deparamo-nos repetidas vezes com a palavra cidadania. Esse largo uso, porém,
não torna seu significado evidente. Ao contrário, o fato de admitir vários
empregos deprecia seu valor conceitual, isto é, sua capacidade de nos fazer
compreender certa ordem de eventos. Assim, pode-se dizer que,
contemporaneamente, a palavra cidadania atende bastante bem a um dos usos
possíveis da linguagem, a comunicação, mas caminha em sentido inverso quando se
trata da cognição, do uso cognitivo da linguagem. Por que, então, a palavra
cidadania é constantemente evocada, se o seu significado é tão pouco
esclarecido?
Maria Alice
Rezende de Carvalho, Cidadania e direitos.
a) Segundo o texto, em que consistem o uso
comunicativo e o “uso cognitivo” da linguagem? Explique resumidamente.
b) Responda sucintamente a pergunta que
encerra o texto: “Por que, então, a palavra cidadania é constantemente evocada,
se o seu significado é tão pouco esclarecido?”
Resposta:
a) Na mídia em geral, a
linguagem é vazia de sentido por repetição excessiva ou inadequação ao contexto
fatual, enquanto que o uso cognitivo da linguagem diz respeito ao perfeito
entendimento do termo, ou seja, ao processo mental da informação.
b) A palavra cidadania é
constantemente evocada por se tratar de assunto amplamente discutido, mas,
muitas vezes, de forma banal, sem a preocupação com o seu verdadeiro
significado: exercício consciente das ações do indivíduo na sociedade.
3.
(Fuvest 2012) Leia com atenção o seguinte
texto:
A onipresença do
olho mágico da televisão no centro da vida doméstica dos brasileiros, com o 1poder
(imaginário) de tudo mostrar e tudo ver que os espectadores lhe atribuem, vem
provocando curiosas alterações nas relações entre o público e o privado.
Durante pelo menos dois séculos, o bom gosto burguês nos ensinou que algumas
coisas não se dizem, não se mostram e não se fazem em público. Essas mesmas
coisas, até então reservadas ao espaço da privacidade, hoje ocupam o centro da
cena televisiva. Não que o bom gosto burguês deva ser tomado como referência
indiscutível da 2ética que regula a vida em qualquer sociedade. Mas
a inversão de padrões que pareciam tão convenientemente estabelecidos nos
países do Ocidente dá o que pensar. No mínimo, podemos concluir que a burguesia
do terceiro milênio já não é a mesma que ditou o bom comportamento dos dois
séculos passados. No máximo, supõe-se que os fundamentos do contrato que
ordenava a vida social entre os séculos XIX e XX estão profundamente abalados,
e já vivemos, sem nos dar conta, em uma sociedade pós-burguesa, num sentido
semelhante ao do que chamamos uma sociedade pós-moderna.
Maria R. Kehl,
in Bucci e Kehl, Videologias: ensaios sobre
televisão.
a) O que a autora do texto quer dizer,
quando se refere ao “poder de tudo mostrar e tudo ver” (ref.1), atribuído à
televisão, como “imaginário”?
b) Indique a palavra do primeiro período que
tem o mesmo significado do prefixo que entra na formação da palavra
“onipresença”.
c) Indique uma palavra ou
expressão do texto que corresponda ao sentido da palavra “ética” (ref.2).
Resposta:
a) O uso dos parênteses
destaca o termo “imaginário” no contexto da frase, para enfatizar que a
televisão produz o efeito ilusório de que as imagens transmitidas ao espectador
passivo representam a realidade.
b) O prefixo “oni”
significa “tudo”, termo que é repetido na frase “tudo mostrar e tudo ver”.
c)
Define-se ética como o conjunto de princípios, normas e regras que visem a um
comportamento moral exemplar, o que é sugerido na expressão “bom
comportamento”.
4.
(Fuvest 2012) Leia o excerto de Memórias
de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida, para
responder ao que se pede.
Caldo
Entornado
A comadre, tendo
deixado o major entregue à sua vergonha, dirigira-se imediatamente para a casa
onde se achava Leonardo para felicitá-lo e contar-lhe o desespero em que a sua
fuga tinha posto o Vidigal. (...) A comadre, segundo seu costume, aproveitou o
ensejo, e depois que se aborreceu de falar no major desenrolou um sermão ao
Leonardo, (...). O tema do sermão foi a necessidade de buscar o Leonardo uma
ocupação, de abandonar a vida que levava, gostosa sim, porém sujeita a
emergências tais como a que acabava de dar-se. A sanção de todas as leis que a
pregadora impunha ao seu ouvinte eram as garras do Vidigal.
Você concorda com as afirmações que seguem?
Justifique suas respostas.
a) Vê-se, no excerto, que a comadre procura
incutir em Leonardo princípios morais destinados a corrigir o comportamento do
afilhado.
b) No sermão que prega a Leonardo, a comadre
manifesta a convicção de que o trabalho é fator decisivo na formação da
personalidade de um jovem.
Resposta:
a) Nota-se, no excerto, que a comadre não
tinha atributos de personalidade adequados para fomentar em Leonardo qualidades
positivas que visassem à transformação do seu caráter malandro. O fato de
felicitá-lo por ter escapado de uma merecida punição e por ter exposto a figura
da autoridade ao ridículo, assim como o de demonstrar prazer em falar
longamente da vida alheia não constituem bons exemplos de quem quer ser
conselheira de boa conduta moral e ética. Estes gestos, ao invés de
contribuírem para corrigir o comportamento de Leonardo, servem de mau exemplo e
incentivam a inconsequência de quem vive em função de prazeres e ao sabor da
boa ou má sorte.
b) Percebe-se que a maior
preocupação da comadre era livrar Leonardo das consequências negativas a que
estaria sujeito, caso não arranjasse uma ocupação. Essas consequências estavam
intimamente ligadas à ação de Vidigal que perseguia os desocupados e os
castigava sem moderação. Assim, não era a convicção de que o trabalho era fator
decisivo na formação do caráter do afilhado que movia a comadre, mas sim a
necessidade de que este escapasse da punição, ainda que à custa do abandono de
uma vida de prazeres.
5.
(Fuvest 2012) Leia o excerto de A
cidade e as serras, de Eça de Queirós, e responda ao que se pede.
Na sala, a tia
Vicência ainda nos esperava desconsolada, entre todas as luzes, que ardiam no
silêncio e paz do serão debandado:
- Ora uma coisa
assim! Nem querem ficar para tomar um copinho de geleia, um cálice de vinho do
Porto!
- Esteve tudo
muito desanimado, tia Vicência! - exclamei desafogando o meu tédio. - Todo esse
mulherio emudeceu, os amigos com um ar desconfiado...
Jacinto
protestou, muito divertido, muito sincero:
- Não! Pelo
contrário. Gostei imenso. Excelente gente! E tão simples... Todas estas
raparigas me pareceram ótimas. E tão frescas, tão alegres! Vou ter aqui bons
amigos, quando verificarem que eu não sou miguelista.
Então contamos à
tia Vicência a prodigiosa história de D. Miguel escondido em Tormes... Ela ria!
Que coisas! E mau seria...
- Mas o Sr.
Jacinto, não é?
- Eu, minha
senhora, sou socialista...
a) Defina sucintamente o miguelismo a
que se refere o texto e indique a relação que há entre essa corrente política e
a história do Brasil.
b) Tendo em vista o
contexto da obra, explique o que significa, para Jacinto, ser “socialista”.
Resposta:
a) No final
do século XIX, estabeleceu-se na sociedade portuguesa uma visão generalizada de
duas correntes políticas que se opunham: miguelismo, defensora da corrente
absolutista, e liberalismo, portadora de anseios políticos renovadores.
Reagindo negativamente à aclamação de D. Pedro como rei de Portugal, os adeptos
de seu irmão D. Miguel, ligados às alas mais conservadoras da burguesia e à
igreja católica mais retrógrada, conspiravam secretamente para derrubar os
liberais, ligados ao rei. Assim, o miguelismo era considerado pela população como
a facção defensora dos princípios absolutistas, símbolo de um estado retrógrado
e reativo aos anseios republicanos que já se faziam sentir, o que explica a
deserção de todos os convidados da tia Vicência. D. Pedro I do Brasil e IV de
Portugal, depois de abdicar do trono brasileiro, parte para Portugal, derrota
os miguelistas e abre espaço para o estabelecimento de governo regencial no
Brasil enquanto D. Pedro II não atinge a maioridade.
b) Em “A
cidade e as serras”, desenvolve-se a tese de que a prosperidade social acontece
como resultado da intervenção patronal na melhoria de condições de
sobrevivência dos trabalhadores, assim como a introdução da tecnologia na
produção rural. Trata-se de uma visão reformista, pois não interfere na divisão
da propriedade, nem altera a estratificação social do regime vigente, o que
contraria a filosofia socialista clássica. Jacinto declara-se “socialista” por
ter amenizado as duras condições de vida dos seus empregados, à luz de uma ação
assistencial e paternalista.
6.
(Fuvest 2012) Leia o seguinte excerto de Capitães
da areia, de Jorge Amado, e responda ao que se pede.
O sertão comove
os olhos de Volta Seca. O trem não corre, este vai devagar, cortando as terras
do sertão. Aqui tudo é lírico, pobre e belo. Só a miséria dos homens é
terrível. Mas estes homens são tão fortes que conseguem criar beleza dentro
desta miséria. Que não farão quando Lampião libertar toda a caatinga, implantar
a justiça e a liberdade?
Compare a visão do sertão que aparece no
excerto de Capitães da areia com a que está presente no livro Vidas
secas, de Graciliano Ramos, considerando os seguintes aspectos:
a) a terra (o meio físico);
b) o homem (o sertanejo).
Responda, conforme
solicitado, considerando cada um desses aspectos nas duas obras citadas.
Resposta:
a) Em ambas as obras, o cenário é de desolação, inóspito e incitador à
violência, pois o trabalho nas terras calcinadas pelo calor desumaniza as
pessoas que ali têm de lutar pela sua sobrevivência, igualando-as aos animais.
No entanto, não se percebe nas descrições de “Vidas secas” instantes de
encantamento e beleza que o personagem Volta Seca exprime em “Capitães da
areia” ao declarar que ali “tudo é lírico, pobre e belo”, nem do devaneio de
que a ação do homem poderia “criar beleza” naquela miséria.
b) Em “Capitães de areia”, as crianças abandonadas na orla da praia
lutam pela sobrevivência em ambiente urbano, sujeitas à crueldade de um sistema
opressor que as marginaliza e impele ao banditismo. Volta Seca remete às suas
origens de cangaço e sonha com o retorno a uma ação de luta por justiça e
liberdade. Em “Vidas secas”, o sertanejo tem a sua consciência de embotada pela
sede, não só de água, mas também de conhecimento e de justiça, numa visão de
mundo fragmentada que o obriga a uma constante capitulação perante o poder
constituído, incapaz de uma ação violenta.
7.
(Fuvest 2012) Leia o trecho de Dom
Casmurro, de Machado de Assis, para responder ao que se pede.
Um dia [Ezequiel] amanheceu tocando corneta com a mão; dei-lhe
uma cornetinha de metal.
Comprei-lhe
soldadinhos de chumbo, gravuras de batalhas que ele mirava por muito tempo,
querendo que lhe explicasse uma peça de artilharia, um soldado caído, outro de
espada alçada, e todos os seus amores iam para o de espada alçada. Um dia
(ingênua idade!) perguntou-me impaciente:
- Mas, papai, por
que é que ele não deixa cair a espada de uma vez?
- Meu filho, é
porque é pintado.
- Mas então por
que é que ele se pintou?
Ri-me do engano e
expliquei-lhe que não era o soldado que se tinha pintado no papel, mas o
gravador, e tive de explicar também o que era gravador e o que era gravura: as
curiosidades de Capitu, em suma.
a) Se estabelecermos uma analogia ou um
paralelo entre a gravura, de que se fala no excerto, e o romance Dom
Casmurro, os termos “gravador” e “gravura” corresponderão a que
elementos internos do romance?
b) Continuando no mesmo paralelo entre
“gravura” e Dom Casmurro, pode-se considerar que a lição dada pelo pai ao
filho, a respeito da gravura, serve de advertência também para o leitor do romance?
Justifique sua resposta.
Resposta:
a)
Em “Dom Casmurro”, é o narrador em 1ª pessoa, representado na figura de Bento
Santiago, que constrói a narrativa dos fatos marcantes da sua vida a partir da
própria interpretação da realidade. Assim, é a memória que ajuda a construir a
narrativa no presente sobre uma suposta verdade de fatos já muito distanciada
no tempo e filtrada pela subjetividade de quem a escreve. Da mesma forma que o
gravador cria o desenho do soldado, o autor fictício Bento cria o seu próprio
romance.
b)
Bento explica ao filho que a obra não expressa a verdadeira realidade, pois
está subordinada ao ato da criação artística do autor. Esta explicação lembra
ao leitor que toda a narrativa parte de uma base ficcional e, por isso, não
deve ser entendida como representação fiel dos fatos ocorridos.
8.
(Fuvest 2012) Leia este texto:
A correção da
língua é um artificialismo, continuei episcopalmente. O natural é a incorreção.
Note que a
gramática só se atreve a meter o bico quando escrevemos. Quando falamos,
afasta-se para longe, de orelhas murchas.
Monteiro
Lobato, Prefácios e entrevistas.
a) Tendo em vista a opinião do autor do
texto, pode-se concluir corretamente que a língua falada é desprovida de
regras? Explique sucintamente.
b) Entre a palavra “episcopalmente” e as
expressões “meter o bico” e “de orelhas murchas”, dá-se um contraste de
variedades linguísticas. Substitua as expressões coloquiais, que aí aparecem,
por outras equivalentes, que pertençam à variedade padrão.
Resposta:
a) Usando a ironia, Monteiro Lobato parte da
hipótese que, se a linguagem coloquial é desprovida de regras e a linguagem
escrita é subordinada às regras da gramática normativa, então conclui que “a correção da língua é um artificialismo”.
Este raciocínio é falacioso, pois tanto a linguagem coloquial como a escrita
mantêm vínculos com a gramática, embora sob aspectos diferentes: a primeira com
a gramática discursiva, a segunda, com a gramática normativa.
b) Apenas as expressões
“Meter o bico” e “orelhas murchas” pertencem ao universo da linguagem coloquial
e poderiam ser substituídas, segundo a variedade padrão, por “intrometer-se” e
“humilhada”, respectivamente.
9.
(Fuvest 2011) Leia os seguintes versos de
“Alegria, Alegria”, de Caetano Veloso, e, em seguida, os dois comentários em
que os autores explicam por que essa canção é uma de suas prediletas.
Caminhando contra o vento
Sem lenço e sem documento
No sol de quase dezembro
Eu vou
O sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou
Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot
(...)
Ela pensa em casamento
E eu nunca mais fui à escola
Sem lenço e sem documento
Eu vou
Eu tomo uma coca-cola
Ela pensa em casamento
E uma canção me consola
Eu vou
Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome, sem telefone
No coração do Brasil
(...)
http://www.caetanoveloso.com.br
I. “A linguagem era nova, cheia de referências
visuais, e tudo estava ali, combinando temas que nem sempre pareciam combinar:
despreocupação, engajamento político, tecnologia, lirismo... .”
Laura
de Mello e Souza. Adaptado.
a) Transcreva um verso* que ilustre, de modo
mais expressivo, o que está sublinhado nesse comentário. Justifique sua
escolha.
*(verso
= uma linha.)
II. “A canção era importante pela força
mágica de afirmar a potência criativa da vida em meio à fragmentação do
mundo.”
Jurandir Freire
Costa. Adaptado.
b) Transcreva um verso que exemplifique, de
modo mais evidente, o que está sublinhado nesse comentário. Justifique sua
escolha.
Resposta:
a) Muitos versos poderiam exemplificar o
fato de a linguagem ser nova e cheia de referências visuais. No entanto, o
único que combina engajamento político e tecnologia é "Espaçonave,
guerrilhas", pois remete ao momento histórico que se vivia na época, com o
deslumbramento diante das conquistas espaciais (espaçonaves) e, ao mesmo tempo,
ao contexto político da ditadura militar, em que se observavam movimentos de
luta armada (guerrilhas).
b) A própria linguagem do compositor aponta,
à maneira cubista (justapondo-se diversas imagens), a fragmentação do mundo.
Isso pode ser visto, principalmente, nas estrofes:
O sol se reparte em crimes
Espaçonaves, guerrilhas
Em cardinales bonitas
Eu vou
Em caras de presidentes
Em grandes beijos de amor
Em dentes, pernas, bandeiras
Bomba e Brigitte Bardot
Por entre fotos e nomes
Sem livros e sem fuzil
Sem fome, sem telefone
No coração do Brasil
No
entanto, o enunciado pede um verso que exemplifique essa fragmentação de modo
mais evidente. Assim, o verso em que
se justapõem mais imagens (três), tornando a fragmentação mais patente
é: “Em dentes, pernas, bandeiras”.
10.
(Fuvest 2011) Leia o texto a seguir e
responda ao que se pede.
Tem-se discutido muito sobre as
funções essenciais da linguagem humana e a hierarquia natural que há entre
elas. É fácil observar, por exemplo, que é pela posse e pelo uso da linguagem,
falando oralmente ao próximo ou mentalmente a nós mesmos, que conseguimos
organizar o nosso pensamento e torná-lo articulado, concatenado e nítido; é
assim que, nas crianças, a partir do momento em que, rigorosamente, adquirem o
manejo da língua dos adultos e deixam para trás o balbucio e a expressão
fragmentada e difusa, surge um novo e repentino vigor de raciocínio, que não só
decorre do desenvolvimento do cérebro, mas também da circunstância de que o
indivíduo dispõe agora da língua materna, a serviço de todo o seu trabalho de
atividade mental. Se se inicia e desenvolve o estudo metódico dos caracteres e
aplicações desse novo e preciso instrumento, vai, concomitantemente,
aperfeiçoando-se a capacidade de pensar, da mesma sorte que se aperfeiçoa o
operário com o domínio e o conhecimento seguro das ferramentas da sua
profissão. E é este, e não outro, antes de tudo, o essencial proveito de tal
ensino.
J. Mattoso
Câmara Jr., Manual de expressão oral e escrita. Adaptado.
a) Transcreva o trecho em que o autor trata
da relação da linguagem com o pensamento.
b) Transcreva o trecho em que o autor trata
da relação da linguagem com a fisiologia.
c) Segundo o autor, qual é
o “essencial proveito” do ensino da língua?
Resposta:
a) “... é pela posse e pelo uso da linguagem,
falando oralmente ao próximo ou mentalmente a nós mesmos, que conseguimos
organizar o nosso pensamento e torná-lo articulado, concatenado e nítido...”
b) “... é assim que, nas crianças, a partir
do momento em que, rigorosamente, adquirem o manejo da língua dos adultos e
deixam para trás o balbucio e a expressão fragmentada e difusa, surge um novo e
repentino vigor de raciocínio, que não só decorre do desenvolvimento do
cérebro, mas também da circunstância de que o indivíduo dispõe agora da língua
materna, a serviço de todo o seu trabalho de atividade mental.”
c) Segundo o autor, o “essencial proveito”
do ensino da língua é o aperfeiçoamento da capacidade de pensar: “é pela posse e pelo uso da linguagem (...)
que conseguimos organizar o nosso pensamento e torná-lo articulado, concatenado
e nítido”.
11.
(Fuvest 2011) Leia o seguinte texto.
Flagrado na Ilha de Caras,
Fernando Pessoa disse que está bem mais leve depois que passou a ser um só.
LISBOA – Em
pronunciamento que pegou de surpresa o mercado editorial, o poeta e investidor
Fernando Pessoa anunciou ontem a fusão dos seus heterônimos. Com o enxugamento,
as marcas Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Alberto Caeiro passam a fazer parte
da holding* Fernando Pessoa S.A. “É uma reengenharia”, explicou o
assessor e empresário Mário Sá Carneiro. Pessoa confessou que a decisão foi
tomada “de coração pesado”: “Drummond sempre foi um só. A operação dele é
enxutinha. Como competir?”, indagou. O poeta chegou a pensar em terceirizar os
heterônimos através de um call-center** em Goa, mas questões de
gramática e semântica acabaram inviabilizando as negociações. “Eles não usam
mesóclise”, explicou Pessoa.
http://www.revistapiaui.com.br.
Adaptado.
*Holding [holding company]: empresa
criada para controlar outras empresas.
**Call-center: central de atendimento
telefônico.
a) Esse texto tem apenas finalidade
humorística ou comporta também finalidade crítica? Justifique sua resposta.
b) Por que o “call-center”
mencionado no texto seria localizado especificamente em Goa?
Resposta:
a) Podemos dizer que o texto faz uso do
humor para criticar. Satiricamente, ataca-se o caráter mercadológico que a
literatura apresenta atualmente, levando à sua banalização.
b) Goa faz parte da Índia, considerada a
capital mundial da terceirização. O país possui numerosas centrais de
atendimento telefônico em virtude do uso da mão de obra barata. Assim,
compreende-se a ironia: Goa foi colônia de Portugal – de modo que apresenta
ainda hoje vestígios da língua portuguesa – e, de acordo com o texto,
representa a lógica mercadológica.
12.
(Fuvest 2011) Leia o seguinte texto e
responda ao que se pede.
Em boca
fechada bem-te-vi não faz ninho
Campos de Melo passou todos os anos de sua
vereança sem dar uma palavra. Era o boca de siri da câmara municipal de Cuité.
Até que, uma tarde, ergueu o busto, como quem ia falar. O presidente da Mesa,
mais do que depressa, disse:
- Tem a palavra o nobre vereador.
Então, em meio do grande silêncio, o
grande mudo falou.
- Peço licença para fechar a janela,
pois estou constipado.
José Cândido de
Carvalho, Se eu morrer, telefone para o céu.
a) Tendo em vista o contexto, é correto
afirmar que, tanto do ponto de vista da estrutura quanto da mensagem, o título
do texto constitui um provérbio?
b) Que frase do texto contribui de maneira
mais decisiva para dar um caráter anedótico a essa breve narrativa? Justifique
sua escolha.
Resposta:
a) Sim, pois,
provérbio é uma frase curta e popular, com uma mensagem metafórica, que
geralmente apresenta uma regra social ou moral. Segundo a definição do
dicionário Aurélio: “1. Máxima ou
sentença de caráter prático e popular, comum a todo um grupo social, expressa
em forma sucinta e geralmente rica em imagens; adágio, ditado, anexim, exemplo,
refrão, refrém, rifão. Ex.: ‘Casa de ferreiro, espeto de pau’; ‘Quanto maior a
nau, maior a tormenta’”.
b) A frase do
texto que contribui de maneira mais decisiva para dar um caráter anedótico à
breve narrativa é "Peço licença para fechar a janela, pois estou
constipado", pois representa o desfecho para a expectativa gerada desde o
início do texto.
13.
(Fuvest 2011) É correto afirmar que os
textos “a” e “b”, a seguir, podem ser entendidos de maneira diferente da que
pretendiam seus redatores? Justifique sua resposta separadamente para cada um
dos textos.
Texto a: Alguns sonhos não mudam. Quer dizer, só
de tamanho. (Propaganda de uma instituição bancária)
Texto b: A chuva tirou tudo o que eles tinham.
Agora vamos dar o mínimo que eles precisam. (Campanha feita por estabelecimentos
comerciais em prol de vítimas de enchente)
Resposta:
Sim. No texto
a, a propaganda, provavelmente,
pretende sugerir que os sonhos, com o decorrer do tempo, mudam apenas de
tamanho, ou seja, de menores para maiores. No entanto, a frase, como está
redigida, apresenta ambiguidade, pois, de acordo com ela, os sonhos também
podem mudar de maiores para menores, configurando, do mesmo modo, alteração de
tamanho.
No texto b, a intenção, possivelmente, da
campanha em prol de vítimas de enchente é que, já que essas pessoas perderam
tudo, ajudar com pelo menos o básico de que necessitam. Porém, existe uma
ambiguidade, principalmente com o uso de “mínimo”, que pode levar a entender
que se fará por essas pessoas o mínimo possível, ou seja, que os idealizadores
da campanha buscarão fazer o menos que puderem.
14.
(Fuvest 2011) Leia o excerto de A
cidade e as serras, de Eça de Queirós, e responda ao que se pede.
Era um domingo silencioso, enevoado
e macio, convidando às voluptuosidades da melancolia. E eu (no interesse da
minha alma) sugeri a Jacinto que subíssemos à basílica do Sacré-Coeur, em
construção nos altos de Montmartre. (...)
Mas a basílica em cima não nos
interessou, abafada em tapumes e andaimes, toda branca e seca, de pedra muito nova,
ainda sem alma. E Jacinto, por um impulso bem jacíntico, caminhou gulosamente
para a borda do terraço, a contemplar Paris. Sob o céu cinzento, na planície
cinzenta, a cidade jazia, toda cinzenta, como uma vasta e grossa camada de
caliça* e telha. E, na sua imobilidade e na sua mudez, algum rolo de fumo**,
mais tênue e ralo que o fumear de um escombro mal apagado, era todo o vestígio
visível de sua vida magnífica.
*Caliça: pó ou fragmentos de
argamassa ressequida, que sobram de uma construção ou resultam da demolição de
uma obra de alvenaria.
**Fumo: fumaça.
a) Em muitas narrativas, lugares elevados
tornam-se locais em que se dão percepções extraordinárias ou revelações. No
contexto da obra, é isso que irá acontecer nos “altos de Montmartre”, referidos
no trecho? Justifique sua resposta.
b) Tendo em vista o contexto histórico da
obra, por que é Paris a cidade escolhida para representar a vida urbana?
Explique sucintamente.
c) Sintetizando-se os termos com que, no
excerto, Paris é descrita, que imagem da cidade finalmente se obtém? Explique
sucintamente.
Resposta:
a) Sim, pois Jacinto, que no início da obra
era deslumbrado com a Cidade, defendendo a vida urbana como superior, agora,
nos “altos de Montmartre”, em um momento de intenso pessimismo, reconhece que
tudo o que havia valorizado outrora poderia ser ilusão.
b) Paris, no final do século XIX, era a
“cidade-luz”, símbolo do mundo moderno, auge da ciência e da cultura.
c) No texto, Paris não é mais descrita como
a cidade “luminosa” do início do livro, mas como cinzenta e sem vida, “jazia”.
Link para questões de outras disciplinas:
Bons estudos!
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