TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
Ode1 para o futuro
Falareis de nós como de um sonho.
Crepúsculo dourado. Frases calmas.
Gestos vagarosos. Música suave.
Pensamento arguto2. Sutis
sorrisos.
Paisagens deslizando na distância.
Éramos livres. Falávamos, sabíamos,
e amávamos serena e docemente.
Uma angústia delida3,
melancólica,
sobre ela sonhareis.
E as tempestades, as desordens, gritos,
violência, escárnio4, confusão
odienta5,
primaveras morrendo ignoradas
nas encostas vizinhas, as prisões,
as mortes, o amor vendido,
as lágrimas e as lutas,
o desespero da vida que nos roubam
- apenas uma angústia melancólica,
sobre a qual sonhareis a idade de ouro.
E, em segredo, saudosos, enlevados6,
falareis de nós - de nós! -
como de um sonho.
JORGE DE SENA
www.letras.ufrj.br
1 ode: tipo de poema
2 arguto: capaz de perceber
as coisas mais sutis
3 delida: apagada
4 escárnio: desdém,
menosprezo
5 odienta: que inspira
aversão, ódio
6 enlevados: maravilhados,
extasiados
1.
(Uerj 2012) As imagens positivas
presentes na 1ª estrofe do poema, como Frases calmas (v. 2), opõem-se às imagens
negativas da 3ª estrofe, como confusão odienta (v. 11).
Explique a que se referem as imagens
positivas da 1ª estrofe e a que se referem as imagens negativas da 3ª estrofe.
Resposta:
As imagens positivas da 1ª
estrofe representam a visão idealizada que o futuro construirá acerca do
presente, enquanto as imagens negativas da 3ª estrofe se referem aos
acontecimentos reais vividos pelo sujeito poético nesse mesmo presente.
TEXTO PARA AS
PRÓXIMAS 3 QUESTÕES:
Como e
porque sou romancista
Minha mãe e minha tia se
ocupavam com trabalhos de costuras, e as amigas para não ficarem ociosas as
ajudavam. Dados os primeiros momentos à conversação, 2passava-se à
leitura e era eu chamado ao lugar de honra.
Muitas vezes, confesso,
essa honra me arrancava bem a contragosto de um sono começado ou de um folguedo
querido; 3já naquela idade a reputação é um fardo e bem pesado.
Lia-se até a hora do chá, e
tópicos havia tão interessantes que eu era obrigado à repetição. Compensavam
esse excesso, as pausas para dar lugar às expansões do auditório, o qual
desfazia-se em recriminações contra algum mau personagem, ou acompanhava de
seus votos e simpatias o herói perseguido.
Uma noite, daquelas em que
eu estava mais possuído do livro, 4lia com expressão uma das páginas
mais comoventes da nossa biblioteca. As senhoras, de cabeça baixa, levavam o
lenço ao rosto, e poucos momentos depois não puderam conter os soluços 8que
rompiam-lhes o seio.
Com a voz afogada pela comoção
e a vista empanada pelas lágrimas, eu também cerrando ao peito o livro aberto,
disparei em pranto e respondia com palavras de consolo às lamentações de minha
mãe e suas amigas.
Nesse instante assomava à
porta um parente nosso, o Revd.º Padre Carlos Peixoto de Alencar, já assustado
com o choro que ouvira ao entrar – 6Vendo-nos a todos naquele estado
de aflição, ainda mais perturbou-se:
- Que aconteceu? Alguma
desgraça? Perguntou arrebatadamente.
As senhoras, escondendo o
rosto no lenço para ocultar do Padre Carlos o pranto e evitar seus 1remoques,
não proferiram palavra. Tomei eu a mim responder:
7-
Foi o pai de Amanda que morreu! Disse, mostrando-lhe o livro aberto.
Compreendeu o Padre Carlos
e soltou uma gargalhada, como ele as sabia dar, verdadeira gargalhada homérica,
que mais parecia uma salva de sinos a repicarem do que riso humano. E após
esta, outra e outra, que era ele inesgotável, quando ria de abundância de
coração, com o gênio prazenteiro de que a natureza o dotara.
Foi essa leitura contínua e
repetida de novelas e romances que primeiro imprimiu em meu espírito a
tendência para essa forma literária [o romance] que é entre todas a de minha
predileção?
1Não me animo a resolver
esta questão psicológica, 5mas creio que ninguém contestará a influência
das primeiras impressões.
JOSÉ DE ALENCAR
Como e
porque sou romancista. Campinas: Pontes, 1990.
1remoque: zombaria, caçoada
2.
(Uerj 2011) que rompiam-lhes o
seio. (ref. 8)
O vocábulo sublinhado faz referência a uma
palavra já enunciada no texto.
Essa palavra a que se refere o vocábulo lhes
é:
a) soluços
b) páginas
c) senhoras
d) momentos
Resposta:
[C]
O pronome
oblíquo átono “lhes”, em função de objeto indireto do verbo “rompiam”, remete a
“senhoras”.
3.
(Uerj 2011) Não me animo a resolver
esta questão psicológica, mas creio que ninguém contestará a influência das
primeiras impressões. (ref. 1)
Ao final do texto o autor levanta uma
questão, mas diz que não pode resolvê-la. Entretanto, a segunda parte da frase
sugere que o autor tem uma resposta.
Este é um conhecido processo retórico, pelo
qual o autor adota o procedimento indicado em:
a) criticar para negar
b) negar para afirmar
c) duvidar para justificar
d) reconhecer para criticar
Resposta:
[B]
Ao afirmar
que não pode resolver a questão, mas, em seguida, sugerir que possui uma
resposta, o autor faz uso de uma figura de retórica, a litotes, que consiste em
usar a negação como modo de afirmação.
4.
(Uerj 2011) Vendo-nos a todos naquele
estado de aflição, (ref. 6)
O fragmento acima poderia ser reescrito, com
o emprego de um conectivo.
A reescritura que preserva o sentido
original do fragmento é:
a) caso nos visse a todos
naquele estado de aflição.
b) porém nos viu a todos
naquele estado de aflição.
c) quando nos viu a todos
naquele estado de aflição.
d) não obstante nos ver a
todos naquele estado de aflição.
Resposta:
[C]
A oração
reduzida de gerúndio pode ser desenvolvida através de uma subordinada adverbial
temporal, “quando nos viu a todos naquele estado de aflição”. Ao contrário das
outras opções, a),b) e d), que expressam circunstâncias de condição,
adversidade e concessão, respectivamente, a frase citada configura o momento em
que o Padre Carlos se perturba pela cena comovente e indaga sobre o que se
estava a passar.
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
Competição e
individualismo excessivos ameaçam saúde dos trabalhadores
Ideologia do individualismo
O
novo cenário mundial do trabalho apresenta facetas como a da competição globalizada
e a da ideologia do individualismo. A afirmação foi feita pelo professor da
Universidade de Brasília (UnB) Mário César Ferreira, ao participar do seminário
Trabalho em Debate: Crise e Oportunidades.
Segundo
ele, pela primeira vez, há uma ligação direta entre trabalho e índices de
suicídio, sobretudo na França, em função das mudanças focadas na ideia de
excelência.
Fim da especialização
2“A
configuração do mundo do trabalho é cada vez mais volátil”, disse o professor.
Ele destacou ainda a crescente expansão do terceiro setor, do trabalho em
domicílio e do trabalho feminino, bem como a exclusão de perfis como o de
trabalhadores jovens e dos fortemente especializados. “As organizações preferem
perfis polivalentes e multifuncionais.” Desta forma, a escolarização clássica
do trabalhador amplia-se para a qualificação contínua, enquanto a
ultraespecialização evolui para a multiespecialização.
Metamorfoses do trabalho
1Ele
ressaltou que as “metamorfoses” no cenário do trabalho não são “indolores” para
os que trabalham e provocam erros frequentes, retrabalho, danificação de
máquinas e queda de produtividade.
3Outra
grande consequência, de acordo com o professor, diz respeito à saúde dos
trabalhadores, que leva à alta rotatividade nos postos de trabalho e aos casos
de suicídio. 4“Trata-se de um cenário em que todos perdem, a
sociedade, os governantes e, em particular, os trabalhadores”, avaliou.
Articulação entre econômico
e social
Para
a coordenadora da Diretoria de Cooperação e Desenvolvimento do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Christiane Girard, a problemática das
relações de trabalho envolve também uma questão: 5qual o tipo de
desenvolvimento que nós, como cidadãos, queremos ter?
Segundo
Christiane, é preciso “articular” o econômico e o social, como acontece na
economia solidária.
“Ela
é uma das alternativas que aparecem e precisa ser discutida. 6A
resposta do trabalhador se manifesta por meio do estresse, de doenças diversas
e do suicídio. A gente não se pergunta o suficiente sobre o peso da gestão do
trabalho”, disse a representante do Ipea.
Adaptado de www.diariodasaude.com.br
5.
(Uerj 2011) Dentre as palavras usadas
no texto para descrever o novo regime de trabalho, uma delas implica uma
contradição nos próprios termos, ou seja, uma palavra cuja composição contém
elementos que se opõem.
A palavra formada por elementos que sugerem
sentidos opostos é:
a) terceirização
b) escolarização
c) ultraespecialização
d) multiespecialização
Resposta:
[D]
“Multi” é
elemento de formação de palavras que sugere “muito”, um prefixo produtivo que,
ao ser associado a “especialização”, gera a contradição do termo
“multiespecialização”. Se a especialização sugere o conhecimento particular ou
singular sobre uma determinada área do trabalho, o prefixo “multi” expressa
multiplicidade.
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
Um futuro
sombrio
No
romance Fahrenheit 451 (1953), Ray Bradbury imagina um futuro sombrio no
qual os bombeiros se dedicam não a apagar incêndios mas sim a queimar livros,
especialmente de ficção. Segundo o romance, como se chegou a esse futuro?
À
proporção que a chamada vida moderna se acelerou, os livros se reduziram
primeiro a breves resumos de poucas páginas, depois a emissões radiofônicas de
quinze minutos, por fim a no máximo dez linhas em um dicionário. As
universidades pararam de produzir professores. Em todos os lugares,
espalharam-se “joke-boxes”, ou seja: caixas de música que, em vez de tocar
música, apenas contam piadas. A palavra “intelectual” se converteu em um
xingamento.
Como
as casas não pegavam mais fogo, os antigos bombeiros passaram a ter o trabalho
de queimar todos os livros do mundo. Junto com os livros, eles agora queimam
também as pessoas que não desistem de ler. Um bombeiro chamado Montag, porém,
lê os livros que deveria queimar. Quando chega a vez de queimarem os seus
livros e a ele mesmo, consegue fugir. Na fuga, Montag encontra várias pessoas
que vivem nas florestas como nômades, ocupando-se em guardar de memória os
livros que leram. São bibliotecas ambulantes disfarçadas de mendigos.
Um
deles lhe explica no que eles acreditam: “A coisa mais importante que tivemos
de meter na cabeça é que nós não éramos importantes, que não devíamos ser
pedantes: nós não nos sentíamos superiores a ninguém mais neste mundo. Somos
nada mais do que as capas empoeiradas dos livros, sem qualquer valor
intrínseco.” Ao dizer que eles não são “mais do que as capas empoeiradas dos
livros”, o homem-livro enfatiza a preocupação de guardar aquilo que torna os
seres humanos melhores e maiores.
Depois
de ser apresentado a esses homens, Montag vê que a cidade mais próxima se
transforma num clarão. Os Estados Unidos finalmente parecem ter sido atingidos
por uma bomba atômica (a cena é imaginada quase quarenta anos antes da queda
das torres gêmeas).
Ao
encontrarem os sobreviventes solitários e perdidos, os homens-livros dizem que
eles estão ali para lembrar. Eis como pretendem vencer a longo prazo: de tanto
recordarem, acabarão por escavar a maior sepultura de todos os tempos para nela
enterrar nada mais nada menos do que a guerra. Os livros que começam a devolver
às pessoas se revelarão espelhos nos quais todos podem voltar a se observar
longamente.
CLÁUDIO CANO
Adaptado de
http://blogderesenhas.com.br
6.
(Uerj 2011) A resenha do romance Fahrenheit
451 menciona dois problemas também evocados pelos personagens da tirinha.
Identifique um desses problemas e, em
seguida, descreva a solução apontada para ele no romance, segundo a resenha.
Resposta:
O romance,
cujo título remete à temperatura a que se incendeia o papel, apresenta um
futuro onde todos os livros são proibidos, opiniões próprias são consideradas
antissociais e hedonistas e o pensamento crítico é suprimido. Os problemas
abordados são muitos e variados (Indivíduo vs. Sociedade, Conhecimento vs.
Ignorância, Tecnologia, Desintegração da Sociedade, Censura incitada pela
sociedade), dois deles mencionados também na tirinha de Mafalda: aceleração da
vida moderna e guerra. O último parágrafo da resenha mostra que o
restabelecimento do contato com os livros permite que os homens voltem a
refletir e acabem com a guerra (“Eis como pretendem vencer a longo prazo: de
tanto recordarem, acabarão por escavar a maior sepultura de todos os tempos
para nela enterrar nada mais nada menos do que a guerra”).
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
Juventude e participação
Inicialmente, gostaria de
destacar que toda avaliação é feita a partir de uma comparação. Neste caso,
essa comparação poderia ser feita em duas direções. Uma delas em relação a
outras faixas etárias e a outra em relação à juventude de épocas passadas. Em
relação à primeira dimensão, me parece que o comportamento político da
juventude não seja diferente do de outras faixas etárias. 1Os que
avaliam como baixa a participação política da juventude atual não podem afirmar
que seja diferente da participação política das outras faixas. 10Existem
parcelas da população passivas (e entre elas há jovens e também adultos), assim
como existem parcelas da população com alta taxa de participação política, e
entre elas podemos igualmente identificar jovens e adultos.
Logo, uma comparação entre
faixas etárias não nos leva a concluir que seja baixa a participação política
da juventude. Agora, em relação à outra dimensão, a comparação entre juventudes
de épocas diferentes, podemos constatar diferenças que aparentemente levem
algumas pessoas a afirmações do tipo “a juventude atual não está com nada”,
“antigamente os jovens tinham maior consciência e atuação política”. E aqui,
novamente, 11devemos analisar a questão por partes. Jovens alienados
e passivos sempre existiram ao lado de jovens conscientizados e ativos
politicamente.
9Deve-se reconhecer que 5a
proporção entre essas duas categorias muda com o tempo, 12tem épocas
em que a proporção de jovens ativos se amplia e em outras épocas diminui. Mas
esse aumento ou diminuição é uma expressão da sociedade como um todo e não de
uma determinada faixa etária. Se numa época a parcela de jovens cresce e se
torna mais intensa, 6é porque esse mesmo fenômeno se manifesta na
sociedade como um todo. 2O comportamento juvenil expressa as
tendências gerais da sociedade como um todo.
3A grande diferença está nos
meios de que dispõem os jovens para desenvolver sua consciência crítica 7ou
para manifestar sua postura política. Aí, sim, registramos mudanças radicais em
relação a outras épocas.
4Atualmente, os jovens têm
acesso aos meios de comunicação que permitem ampliar a velocidade e a
abrangência da transmissão de ideias, o que oferece facilidades nunca antes
disponíveis para a expressão política da juventude.
A minha resposta pode
parecer otimista 8e tenho plena consciência de que ela é. Os jovens
da atualidade não são diferentes dos jovens de outras épocas, aceitam ou
rechaçam valores, assumem ou não atitudes políticas com a mesma postura dos
jovens do passado, a diferença não está no grau e sim na forma. 13Não
muda o caminho, muda a forma de caminhar.
LUÍS DE LA MORA
Adaptado de
www.cipo.org.br
7.
(Uerj 2009) Ideologia
Meu partido
É um coração partido
E as ilusões estão todas perdidas
Os meus sonhos foram todos vendidos
Tão barato que eu nem acredito
Eu nem acredito
Que aquele garoto que ia mudar o mundo
(Mudar o mundo)
Frequenta agora as festas do “Grand Monde”
Meus heróis morreram de overdose
Meus inimigos estão no poder
Ideologia
Eu quero uma pra viver
Ideologia
Eu quero uma pra viver
O meu prazer
Agora é risco de vida
Meu sex
and drugs não tem nenhum rock ‘n’
roll
Eu vou pagar a conta do analista
Pra nunca mais ter que saber quem eu sou
Pois aquele garoto que ia mudar o mundo
(Mudar o mundo)
Agora assiste a tudo em cima do muro
Meus heróis morreram de overdose
Meus inimigos estão no poder
Ideologia
Eu quero uma pra viver
Ideologia
Eu quero uma pra viver
CAZUZA e
ROBERTO FREJAT - 1988
www.cazuza.com.br
Depoimentos
“Outras formas e espaços existem
nos movimentos culturais, campesino, sindical, comunitário, nas lutas contra o
racismo, o machismo, a homofobia e muitas outras. Sem falar nos espaços criados
pelo governo, as várias conferências, dos mais variados temas, em que
precisamos participar cada vez mais, levar a cara e a voz da juventude. Sem
falar, é claro, no voto, de que não podemos abrir mão.”
THIAGO
FRANCO
Presidente
da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas - UBES
“A participação política
possibilitou que eu pudesse ter uma leitura crítica da sociedade, que eu
conseguisse perceber coisas como as campanhas políticas, que não são contos de
fadas. Consigo, com a base que adquiri e a minha experiência no movimento
social, ter uma visão política sobre a realidade, sobre o momento em que
vivemos, as eleições. Principalmente hoje, consigo trabalhar para que as
pessoas próximas a mim também tenham esse olhar crítico e estejam preparadas
para fazer suas escolhas.”
EMERSON
QUARESMA
23
anos, repórter do jornal A Crítica e articulador da rede
Sou
de Atitude no Amazonas
www.joveneslac.org
Os textos Juventude e participação,
Ideologia e os dois depoimentos tratam da juventude e de sua participação
na política e na sociedade.
No entanto, entre a perspectiva apresentada
na letra da música de Cazuza e Frejat e o que se manifesta nos outros textos se
estabelece uma diferença principal em relação ao seguinte elemento:
a) repercussão das ações
políticas dos jovens
b) valorização da herança
política do passado
c) confiança nos efeitos da
participação política
d) importância das novas
formas de participação dos jovens
Resposta:
[C]
A letra da música de Cazuza e Frejat
exprime a melancolia do eu lírico
perante a consciência da sua vida alienada, em contraste com o seu passado de
militante ativo. A morte dos seus ídolos políticos e a ascensão dos opositores
(“Meus heróis morreram de overdose/Meus inimigos estão no poder”) causam a
sensação de desencanto e a falta de confiança nos efeitos da participação
política, o que não acontece em “Juventude
e participação”, “ Ideologia”, nem nos depoimentos apresentados.
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
Ideologia
Meu partido
É um coração partido
E as ilusões estão todas perdidas
Os meus sonhos foram todos vendidos
Tão barato que eu nem acredito
Eu nem acredito
Que aquele garoto que ia mudar o mundo
(Mudar o mundo)
Frequenta agora as festas do “Grand Monde”
Meus heróis morreram de overdose
Meus inimigos estão no poder
Ideologia
Eu quero uma pra viver
Ideologia
Eu quero uma pra viver
O meu prazer
Agora é risco de vida
Meu sex
and drugs não tem nenhum rock ‘n’
roll
Eu vou pagar a conta do analista
Pra nunca mais ter que saber quem eu sou
Pois aquele garoto que ia mudar o mundo
(Mudar o mundo)
Agora assiste a tudo em cima do muro
Meus heróis morreram de overdose
Meus inimigos estão no poder
Ideologia
Eu quero uma pra viver
Ideologia
Eu quero uma pra viver
CAZUZA e
ROBERTO FREJAT - 1988
www.cazuza.com.br
8.
(Uerj 2009) A palavra “ideologia” é
dicionarizada ora como “conjunto de ideias, pensamentos, doutrinas e visões de
mundo de um indivíduo ou de um grupo”, ora como “conjunto de ideias que visa à
manipulação e à alienação das pessoas”.
Os versos que melhor se relacionam à
primeira e à segunda acepções, respectivamente, são:
a) “Os meus sonhos foram todos
vendidos” / “Eu vou pagar a conta do analista” (v. 4 e 19)
b) “Meus heróis morreram de
overdose” / “É um coração partido” (v. 10 e 2)
c) “Eu quero uma pra viver” /
“Frequenta agora as festas do ‘Grand Monde’” (v. 13 e 9)
d) “Meu sex and drugs não tem nenhum rock’n’roll”
/ “(Mudar o mundo)” (v. 18 e 22)
Resposta:
[C]
O eu lírico
expressa o desejo de voltar a defender as ideias e doutrinas (“eu quero uma
para viver”) e reiniciar a sua participação política, libertando-se do mundo de
alienação em que vive (“Frequenta agora as festas do `Grand Monde´ ”).
TEXTO PARA A
PRÓXIMA QUESTÃO:
Herói na contemporaneidade
1Quando eu era criança,
passava todo o tempo desenhando super-heróis.
Recorro ao historiador de
mitologia Joseph Campbell, que diferenciava as duas figuras públicas: o herói
(figura pública antiga) e a celebridade (a figura pública moderna). Enquanto a
celebridade se populariza por viver para si mesma, o herói assim se tornava por
viver servindo sua comunidade. 2Todo super-herói deve atravessar
alguma via crucis. Gandhi, líder pacifista indiano, disse que, quanto
maior nosso sacrifício, maior será nossa conquista. Como Hércules, como Batman.
Toda história em quadrinhos
traz em si alguma coisa de industrial e marginal, ao mesmo tempo e sob o mesmo
aspecto. Os filmes de super-herói, ainda que transpondo essa cultura para a
grande e famigerada indústria, realizam uma outra façanha, que provavelmente
sem eles não ocorreria: a formação de novas mitologias reafirmando os mesmos
ideais heroicos da Antiguidade para o homem moderno. O cineasta italiano
Fellini afirmou uma vez que Stan Lee, o criador da editora Marvel e de diversos
heróis populares, era o Homero dos quadrinhos.
Toda boa história de
super-herói é uma história de exclusão social. Homem-Aranha é um nerd,
Hulk é um monstro amaldiçoado, Demolidor é um deficiente, os X-Men são
indivíduos excepcionais, Batman é um órfão, Super-Homem é um alienígena
expatriado. 3São todos símbolos da solidão, da sobrevivência e da
abnegação humanas.
Não se ama um herói pelos
seus poderes, mas pela sua dor. Nossos olhos podem até se voltar a eles por
suas habilidades fantásticas, mas é na humanidade que eles crescem dentro do
gosto popular. Os super-heróis que não sofrem ou simplesmente trabalham para o
sistema vigente tendem a se tornar meio bobos, como o Tocha-Humana ou o Capitão
América.
Hulk e Homem-Aranha são
seres que criticam a inconsequência da ciência, com sua energia atômica e suas
experiências genéticas. Os X-Men nos advertem para a educação inclusiva.
Super-Homem é aquele que mais se aproxima de Jesus Cristo, e por isso talvez
seja o mais popular de todos, em seu sacrifício solitário em defesa dos seres
humanos, mas também tem algo de Aquiles, com seu calcanhar que é a kriptonita.
Humano e super-herói, como Gandhi.
4Não houve nenhuma
literatura que tenha me marcado mais do que essas histórias em quadrinhos. Eu
raramente as leio hoje em dia, mas quando assisto a bons filmes de super-heróis
eu lembro que todos temos um lado ingênuo e bom, que pode ser capaz de suportar
a dor da solidão por um princípio.
FERNANDO CHUÍ
Adaptado de
http://fernandochui.blogspot.com
9.
(Uerj 2009) O método dedutivo
organiza-se a partir de premissas gerais que são confirmadas por premissas
particulares para se chegar a uma conclusão.
A frase do texto que evidencia uma premissa
geral é:
a) “Quando eu era criança,
passava todo o tempo desenhando super-heróis.” (ref. 1).
b) “Todo super-herói deve
atravessar alguma via crucis.” (ref. 2)
c) “São todos símbolos da
solidão, da sobrevivência e da abnegação humanas.” (ref. 3)
d) “Não houve nenhuma
literatura que tenha me marcado mais do que essas histórias em quadrinhos.”
(ref. 4).
Resposta:
[B]
Em A e D o autor apresenta
vivências pessoais que auxiliam na demonstração da sua opinião e, em C, uma
súmula dos exemplos citados anteriormente. Apenas em B está expressa a premissa
geral que constitui a tese.
Questões para outras disciplinas:
Bons estudos!!!!