terça-feira, 27 de novembro de 2012

Específica da Uerj - Interpretação de texto - questões discursivas com gabarito comentado





1. (Uerj 2012)  TEXTO II

Ele está cansado, é quase meia-noite, e pode afinal voltar para casa. (...). No edifício da esquina, o mesmo cachorro de focinho enterrado na lata de lixo. Ao passar sob as árvores, ao menor arrepio do vento, gotas borrifam-lhe o rosto, que ele não se incomoda de enxugar.
Ao mexer no portão, o cachorrinho late duas vezes – estou aqui, meu velho – e, 1por mais que saltite ao seu lado, procurando alcançar-lhe a mão, ele não o agrada. (...)
Prevenido, desvia-se do aquário sobre o piano: o peixinho dourado conhece os seus passos e de puro exibicionismo entrega-se às mais loucas evoluções.
Ele respira fundo e, cabisbaixo, entra no quarto. 2A mulher, sentada na cama, a folhear sempre uma revista (é a mesma revista antiga), olha para ele, mas ele não a olha.
No banheiro, veste em surdina o pijama e, ao lavar as mãos, recolhe da pia os longos cabelos alheios. Escova de leve os dentes, sem evitar que sangrem as gengivas.
– Ai, como é triste a velhice... – confessa para o espelho, e são palavras que não querem dizer nada.
Aperta as torneiras da pia, do chuveiro e do bidê – se uma delas pingasse ele já não poderia dormir.
Na passagem, apanha o livro sobre o guarda-roupa – ele a olhou de relance, mas ela não o olhou – e dirige-se para a sala, onde acende a lâmpada ao lado da poltrona. Em seguida, descalço, sobe na cadeira e com a chave dá corda ao relógio. Entra na cozinha e, ao abrir a luz, pretende não ver a mesma barata na sua corrida tonta pelos cantos. Deita um jarro d’água no filtro e bebe meio copo, que enxuga no pano e põe de volta no armário.
Antes de sentar na poltrona, detém-se diante do quarto da filha – a porta está aberta, mas ele não entra. Esboça um aceno e presto encolhe a mão. Por mais que afine o ouvido não escuta o bafejo da criança em sossego – e se ela deixou de respirar?
(...) Abre o livro e concentra-se na leitura: frases sem nenhum sentido.
Na casa silenciosa, apenas o voltear das folhas lá no quarto, às suas costas o peixinho estala o bico a modo de um velho que rumina a dentadura. Por vezes, cansado demais, cabeceia e o livro cai-lhe no joelho – enquanto não se apaga a luz do quarto ele não vai deitar.
(...)
Está salvo desde que ignore a porta do quarto da filha; ergue, com esforço, as pálpebras pesadas de sono e lê mais algumas linhas, evitando levar a mão ao rosto, onde um músculo dispara de repente a tremer no canto da boca. (...)
Ao extinguir-se enfim a outra luz, ele deixa passar alguns minutos e, arrastando os pés no tapete, recolhe-se ao quarto, acende a lâmpada do seu criado-mudo, com cautela infinita para não encarar a esposa que, voltada para o seu lado, pode estar com um olho aberto ou, quem sabe, até com um sorriso nos lábios. (...)
Será uma grande demora até que na rua clarinem* as primeiras buzinas – os galos da cidade. (...) Prepara-se para a noite em que há de entrar numa casa deserta e, ao abrir a porta, assobiará duas notas, uma breve, outra longa: todos os quartos vazios, o assobio é para a sua alma irmã, a baratinha no canto escuro.
(...)
Longe vai a manhã, mas resta-lhe o consolo de que, ao saltar do leito, esquecerá entre os lençóis o fantasma do seu terror noturno. Outra vez ergue-se no quarto o ressonar tranquilo da esposa; cuidadoso de não ranger o colchão, ele volta-se para o outro lado. Pouco importa se nunca mais chegar a dormir. Afinal você não pode ter tudo.

DALTON TREVISAN
A guerra conjugal. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969.

* Clarinem - soem como clarim

Nos trechos transcritos a seguir, estão sublinhados dois verbos que podem ser usados com variação da regência: transitivo direto ou transitivo indireto. A variação da regência altera o sentido do verbo “agradar”: fazer agrados ou ser agradável. Já o verbo “olhar” expressa o mesmo sentido nos dois casos.

por mais que saltite ao seu lado, procurando alcançar-lhe a mão, ele não o agrada. (ref.1)
A mulher, sentada na cama, (...) olha para ele, mas ele não a olha. (ref. 2)

Identifique, no primeiro trecho, a regência do verbo “agradar” e o sentido em que ele foi empregado.
Em seguida, reescreva o segundo trecho, variando a regência do verbo “olhar” em cada ocorrência.


Resposta:

O verbo agradar pode ser intransitivo, transitivo indireto ou direto, com o sentido de causar boa impressão, satisfazer e fazer carinho, respectivamente. No trecho “ele não o agrada”, o verbo é transitivo direto, portanto com valor semântico de fazer agrados, acarinhar. No segundo trecho, a variação da regência do verbo “olhar” não altera o sentido do texto, pois a mulher, sentada na cama, olha-o, mas ele não olha para ela é sinônima da original.




TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES:
Gênesis

Quando ele nasceu foi no sufoco
Tinha uma vaca, um burro e um louco
Que recebeu Seu Sete

Quando ele nasceu foi de teimoso
Com a manha e a baba do tinhoso
Chovia canivete

Quando ele nasceu nasceu de birra
Barro ao invés de incenso e mirra
Cordão cortado com gilete

Quando ele nasceu sacaram o berro*
Meteram faca, ergueram ferro
Exu falou: ninguém se mete!

Quando ele nasceu tomaram cana
Um partideiro puxou samba
Oxum falou: esse promete!

ALDIR BLANC
In: FERRAZ, Eucanaã (org.). Veneno antimonotonia.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2005.

* berro – revólver


2. (Uerj 2012)  Uma característica marcante do poema “Gênesis” é a simetria, que consiste na harmonia de certas combinações e proporções.
Aponte dois recursos diferentes utilizados no poema – um rítmico/sonoro e outro sintático – que contribuem para essa simetria.


Resposta:

O poema de Aldir Blanc, que se notabilizou como letrista a partir de suas parcerias com João Bosco, apresenta recursos rítmicos/sonoros e também sintáticos, típicos das manifestações orais da linguagem que acompanham a música. Assim, a disposição das rimas com esquema AAB/CCB/DDB/EEB//FFB, além do uso de versos de nove e oito sílabas que se alternam no primeiro e segundos versos de cada grupo, conferem ao poema o equilíbrio necessário para que música e letra se completem e resultem em algo agradável de ouvir. Também a repetição do verso “Quando ele nasceu”, que inicia o primeiro verso de cada estrofe, constitui recurso sintático importante para a simetria do poema.



  
3. (Uerj 2012)  Natal

Jesus nasceu! Na abóbada infinita
Soam cânticos vivos de alegria;
E toda a vida universal palpita
Dentro daquela pobre estrebaria...

Não houve sedas, nem cetins, nem rendas
No berço humilde em que nasceu Jesus...
Mas os pobres trouxeram oferendas
Para quem tinha de morrer na Cruz.

Sobre a palha, risonho, e iluminado
Pelo luar dos olhos de Maria,
Vede o Menino-Deus, que está cercado
Dos animais da pobre estrebaria.

Não nasceu entre pompas reluzentes;
Na humildade e na paz deste lugar,
Assim que abriu os olhos inocentes,
Foi para os pobres seu primeiro olhar.

No entanto, os reis da terra, pecadores,
Seguindo a estrela que ao presepe os guia,
Vêm cobrir de perfumes e de flores
O chão daquela pobre estrebaria.

Sobem hinos de amor ao céu profundo;
Homens, Jesus nasceu! Natal! Natal!
Sobre esta palha está quem salva o mundo,
Quem ama os fracos, quem perdoa o Mal!

Natal! Natal! Em toda Natureza
Há sorrisos e cantos, neste dia...
Salve, Deus da Humildade e da Pobreza,
Nascido numa pobre estrebaria!

OLAVO BILAC
In: BUENO, Alexei (org.). Olavo Bilac: obra reunida.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.

O poema “Natal” retrata o episódio que dá início à história do Cristianismo, reunindo os elementos que o caracterizam segundo a tradição católica. O poema “Gênesis” se refere ao mesmo episódio, mas o faz por meio de uma linguagem bem diversa e de forma menos explícita.
Considerando os dados contidos no poema de Olavo Bilac, transcreva os dois versos de “Gênesis” que fazem alusão ao nascimento de Jesus.
Compare, agora, os seguintes versos de “Natal” e “Gênesis”:

Há sorrisos e cantos, neste dia... (v.26)
Um partideiro puxou samba (v.14)

Explique a semelhança e a diferença dos conteúdos desses versos.


Resposta:

Os versos “Tinha uma vaca, um burro e um louco” e “Barro ao invés de incenso e mirra” do poema “Gênesis” estabelecem intertextualidade com o relato bíblico do nascimento de Jesus da tradição judaico-cristã. Assim como o poema “Natal” de Bilac, refere-se ao episódio com expressões de júbilo, embora com linguagem caracteristicamente popular e brasileira, contrastando com o tom convencional e genérico do de Olavo Bilac.




TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Previsões de especialistas

A mídia nos bombardeia diariamente com as previsões de especialistas sobre o futuro. Esses experts mais erram do que acertam, mas nem por isso deixamos de recorrer a eles sempre que o horizonte se anuvia. Como explicar o paradoxo?
Uma boa tentativa é o recém-lançado livro do escritor e jornalista Dan Gardner. As passagens mais divertidas do livro são sem dúvida aquelas em que o autor mostra, com exemplos e pesquisas científicas, quão precária é a previsão econômica e política.
Num célebre discurso de 1977, por exemplo, o então presidente dos E.U.A., Jimmy Carter, ancorado nos conselhos dos principais experts do planeta, conclamou os americanos a reduzir drasticamente a dependência de petróleo de sua economia, porque os preços do hidrocarboneto subiriam e jamais voltariam a cair, o que inevitavelmente destruiria o “American way”*. Oito anos depois, as cotações do óleo despencaram e permaneceram baixas pelas duas décadas seguintes.
Alguém pode alegar que Gardner escolhe de propósito alguns exercícios de futurologia que deram errado apenas para ridicularizar a categoria toda.
Para refutar essa objeção, vamos conferir algumas abordagens do problema.
Em 1984, uma revista britânica pediu a 16 pessoas que fizessem previsões sobre taxas de crescimento, câmbio, inflação e outros dados econômicos. Quatro dos entrevistados eram ex-ministros de finanças; quatro eram presidentes de empresas multinacionais; quatro, estudantes de economia de Oxford; e quatro, lixeiros de Londres. Uma década depois, as predições foram contrastadas com a realidade e classificadas pelos níveis de acerto. Os lixeiros terminaram empatados com os presidentes de corporações em primeiro lugar. Em último, ficaram os ministros – o que ajuda a explicar uma ou outra coisinha sobre governos.
A razão para tantas dificuldades em adivinhar o futuro é de ordem física. Nós nos habituamos a ver a ciência prevendo com enorme precisão fenômenos como eclipses e marés. Só que esses são sistemas lineares ou, pelo menos, sistemas em que dinâmicas impostas pelo caos podem ser desprezadas. E, embora um bom número de fenômenos naturais seja linear, existem muitos que não o são. Quando o homem faz parte da equação, pode-se esquecer a linearidade.
Nossos cérebros também trazem de fábrica alguns vieses que tornam nossa espécie presa fácil para adivinhos. Procuramos tão avidamente por padrões que os encontramos até mesmo onde não existem. Temos ainda compulsão por histórias, além de um desejo irrefreável de estar no controle. Assim, alguém que ofereça numa narrativa simples e envolvente a previsão do futuro pode vendê-la facilmente a incautos. Não é por outra razão que oráculos, profecias e augúrios estão presentes em quase todas as religiões.
Como diz Gardner, “vivemos na Idade da Informação, mas nossos cérebros são da Idade da Pedra”. Eles não foram concebidos para processar o papel do acaso, no cerne do conhecimento científico atual. Nós continuamos a tratar as falas dos especialistas como se fossem auspícios** divinos. Como não poderia deixar de ser, frequentemente quebramos a cara.

HÉLIO SCHWARTSMAN
Adaptado de www1.folha.uol.com.br, 30/06/2011

(*)“American way”: estilo americano de vida
(**)auspícios: prenúncios, presságios


4. (Uerj 2012)  O texto de Hélio Schwartsman distingue fenômenos que podem ser previstos com precisão de outros que não o podem.
Apresente um exemplo do texto para os fenômenos do primeiro tipo e outro para os fenômenos do segundo tipo.
Depois, aponte o que, para o autor, distingue os dois tipos de fenômeno.


Resposta:

O texto de Hélio Schwartsman distingue fenômenos que podem ser previstos com precisão (marés, eclipses, fenômenos naturais, sistemas lineares e outros em que dinâmicas impostas pelo caos podem ser desprezadas) de outros que não o podem (taxas de câmbio, preços do petróleo, de crescimento, quaisquer dados econômicos, fenômenos em que há a presença do homem). Segundo o autor, a diferenciação entre eles reside na linearidade ou não dos fenômenos, assim como a presença ou não do ser humano na produção dos fenômenos.




TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
A CIDADE SITIADA
(1949)

O subúrbio de S. Geraldo, no ano de 192..., já misturava ao cheiro de estrebaria algum progresso. Quanto mais fábricas se abriam nos arredores, mais o subúrbio se erguia em vida própria sem que os habitantes pudessem dizer que transformação os atingia. Os movimentos já se haviam congestionado e não se poderia atravessar uma rua sem desviar-se de uma carroça que os cavalos vagarosos puxavam, enquanto um automóvel impaciente buzinava atrás lançando fumaça. Mesmo os crepúsculos eram agora enfumaçados e sanguinolentos. De manhã, entre os caminhões que pediam passagem para a nova usina, transportando madeira e ferro, as cestas de peixe se espalhavam pela calçada, vindas através da noite de centros maiores. Dos sobrados desciam mulheres despenteadas com panelas, os peixes eram pesados quase na mão, enquanto vendedores em manga de camisa gritavam os preços. E quando sobre o alegre movimento da manhã soprava o vento fresco e perturbador, dir-se-ia que a população inteira se preparava para um embarque.
Ao pôr-do-sol galos invisíveis ainda cocoricavam. E misturando-se ainda à poeira metálica das fábricas o cheiro das vacas nutria o entardecer. Mas de noite, com as ruas subitamente desertas, já se respirava o silêncio com desassossego, como numa cidade; e nos andares piscando de luz todos pareciam estar sentados. As noites cheiravam a estrume e eram frescas. Às vezes chovia.
(LISPECTOR, Clarice. A Cidade sitiada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.)



5. (Uerj 2005)  No texto, o crescimento de um subúrbio é representado como uma força que se impõe aos habitantes.

a) Transcreva duas orações que, apresentando como núcleo do sujeito um substantivo referente a um ser humano, confirmam essa perspectiva.
b) Explique a afinidade que há entre esse modo de representar o ambiente e um movimento literário surgido no Brasil no final do século XIX.


Resposta:

a) Algumas das orações são:
- os habitantes pudessem dizer
- desciam mulheres despenteadas
- a população inteira se preparava
- vendedores em manga de camisa gritavam

b) O texto privilegia a caracterização do ambiente físico e local, colocando tipos humanos como simples elementos integrantes do meio, à semelhança do naturalismo literário. 


Link para questões de outras disciplinas : http://araoalves.blogspot.com.br/search?q=uerj

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Pontuação - Questões discursivas com gabarito comentado





1. (Uff 2010)  Cacá Diegues desbrava o Brasil como os brasilianistas de outrora e mostra uma população alijada que tenta se manter entre a cultura tradicional – transmitida por seus antepassados – e a modernidade, que como um bandeirante entra nos mais longínquos rincões do Brasil. O eterno retorno e a interminável travessia resgatada, entre outros, por Euclides da Cunha emergem na obra de Diegues. O filme é uma forma contemporânea de denunciar o Brasil que conhecemos pouco.

(http://www.facasper.com.br/cultura/site/ensaio. Adaptação).

Texto III

“O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços do litoral. A sua aparência, entretanto, no primeiro lance de vista, revela o contrário. É desgracioso, desengonçado, torto. Hércules-Quasímodo é o homem permanentemente fatigado. Entretanto, toda essa aparência de cansaço ilude. No revés o homem transfigura-se e da figura vulgar do tabaréu canhestro reponta, inesperadamente, o aspecto dominador de um titã acobreado e potente, num desdobramento surpreendente de força e agilidade extraordinárias.”
Euclides da Cunha, Os sertões.

Texto IV


a) Caracterize os efeitos de sentido que a intertextualidade do Texto IV (aspectos verbais e não verbais) apresenta com o fragmento de Os sertões (Texto III).
b) Observe a diferença de pontuação entre “O sertanejo é, antes de tudo, um forte.” (Texto III) e “O sertanejo é antes de tudo um agitador!” (Texto IV) e comente os aspectos semântico-estilísticos na produção de sentidos nessas duas frases.


Resposta:

a) No texto de Drummond e Ziraldo, o sertanejo é ironicamente apresentado como um agitador, quando reivindica. É o aspecto não verbal (figuras esquálidas, caídas no chão, a criança “barrigudinha”, as marcas da seca no chão gretado, as mãos em desespero etc.) que enfatiza a ironia e passa a ressignificar o texto de Euclides da Cunha. Essa ironia faz uma crítica à ideologia do senso comum sobre os nordestinos de modo geral.
b) O emprego das vírgulas ao enfatizar a circunstância de tempo destaca, dentre outras, uma característica positiva do nordestino.
O emprego do ponto de exclamação confere à frase um tom de denúncia.



  
2. (Fgv 2009)  Leia o texto.

                        Amorim, pede pra sair

            O fracasso das negociações comerciais de Doha ecoa a falência verbal que levou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a entrar nas reuniões com o pé esquerdo e a sair delas com a autoridade destroçada por duas declarações de natureza intrinsecamente perversa.
            ("Veja", 06.08.2008)

a) Explique o título do texto, associando-o às informações apresentadas.
b) Se fosse retirada a vírgula do título do texto, haveria alteração de sentido? Justifique a sua resposta.


Resposta:

a) O título do texto remete ao filme "Tropa de Elite", que foi um fenômeno de popularidade em 2007.
No filme, sempre que o personagem Capitão Nascimento queria tirar do seu grupo um integrante incompetente, gritava: "Pede pra sair!". Sugere-se, dessa forma, a incompetência do mencionado ministro, que teria demonstrado inépcia ao fazer declarações que teriam comprometido sua autoridade nas negociações de Doha.

b) Sim, pois, da maneira como o título foi apresentado, entende-se uma exortação para que Celso Amorim peça para sair - das negociações de Doha ou do Ministério. Sem usar a vírgula, o verbo deixaria de estar no imperativo (pede, segunda pessoa do singular) e passaria a ser uma forma do presente do indicativo (terceira pessoa do singular); Amorim, por sua vez, deixaria de ser um vocativo e passaria a sujeito de pede. Assim, a frase deixaria de ser exortativa e passaria a ser declarativa.




TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
TEXTO IV

O dia abriu seu para-sol bordado

O dia abriu seu para-sol bordado
De nuvens e de verde ramaria.
E estava até um fumo, que subia,
Mi-nu-ci-o-sa-men-te desenhado.

Depois surgiu, no céu azul arqueado,
A Lua – a Lua! – em pleno meio-dia.
Na rua, um menininho que seguia
Parou, ficou a olhá-la admirado...

Pus meus sapatos na janela alta,
Sobre o rebordo... Céu é que lhes falta
Pra suportarem a existência rude!

E eles sonham, imóveis, deslumbrados,
Que são dois velhos barcos, encalhados
Sobre a margem tranquila de um açude..
MARIO QUINTANA
Prosa e verso. Porto Alegre: Globo, 1978.


3. (Uerj 2009)  Há no poema de Mario Quintana um mesmo sinal de pontuação – o ponto de exclamação – que aparece em versos diferentes e com sentidos distintos.
Explicite o valor semântico atribuído a esse sinal em cada um dos versos.


Resposta:

1ª ocorrência: surpresa, perplexidade.
2ª ocorrência: lástima, pesar.




TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
TEXTO 1

            A primeira vez que vim ao Rio de Janeiro foi em 1855.
            Poucos dias depois da minha chegada, um amigo e companheiro de infância, o Dr. Sá, levou-me à festa da Glória; uma das poucas festas populares da corte. Conforme o costume, a grande romaria desfilando pela Rua da Lapa e ao longo do cais serpejava nas faldas do outeiro e apinhava-se em torno da poética ermida, cujo âmbito regurgitava com a multidão do povo.
            Era ave-maria quando chegamos ao adro; perdida a esperança de romper a mole de gente que murava cada uma das portas da igreja, nos resignamos a gozar da fresca viração que vinha do mar, contemplando o delicioso panorama da baía e admirando ou criticando as devotas que também tinham chegado tarde e pareciam satisfeitas com a exibição de seus adornos.
            Enquanto Sá era disputado pelos numerosos amigos e conhecidos, gozava eu da minha tranquila e independente obscuridade, sentado comodamente sobre a pequena muralha e resolvido a estabelecer ali o meu observatório. Para um provinciano lançado recém-lançado-chegado à corte, que melhor festa do que ver passar-lhe pelos olhos, à doce luz da tarde, uma parte da população desta grande cidade, com os seus vários matizes e infinitas gradações?
            Todas as raças, desde o caucasiano sem mescla até o africano puro; todas as posições, desde as ilustrações da política, da fortuna ou do talento, até o proletário humilde e desconhecido; todas as profissões, desde o banqueiro até o mendigo; finalmente, todos os tipos grotescos da sociedade brasileira, desde a arrogante nulidade até a vil lisonja, desfilaram em face de mim, roçando a seda e a casimira pela baeta ou pelo algodão, misturando os perfumes delicados às impuras exalações, o fumo aromático do havana às acres baforadas do cigarro de palha.
ALENCAR, José de. Lucíola. São Paulo: Editora Ática, 1988, p. 12.


TEXTO 2

            Quando a manhã chuvosa nasceu, as pessoas que passavam para o trabalho se aproximavam dos corpos para ver se eram conhecidos, seguiam em frente. Lá pelas nove horas, Cabeça de Nós Todo, que entrara de serviço às sete e trinta, foi ver o corpo do ladrão. Ao retirar o lençol de cima do cadáver, concluiu: "É bandido". O defunto tinha duas tatuagens, a do braço esquerdo era uma mulher de pernas abertas e olhos fechados, a do direito, são Jorge guerreiro. E, ainda, calçava chinelo Charlote, vestia calça boquinha, camiseta de linha colorida confeccionada por presidiários. Porém, quando apontou na extremidade direita da praça da Quadra Quinze, em seu coração de policial, nos passos que lhe apresentavam a imagem do corpo de Francisco, um nervosismo brando foi num crescente ininterrupto até virar desespero absoluto. O presunto era de um trabalhador.
LINS, Paulo. Cidade de Deus. São Paulo: Companhia das Letras, 2002, p. 55-56.



4. (Puc-rio)  a) Reescreva o período a seguir, pontuando-o corretamente.

É fato conhecido por muitos que Paulo Lins escritor carioca viveu na Cidade de Deus onde se desenrola a trama de seu famoso livro.

b) Construa períodos compostos por subordinação transformando as orações sublinhadas em subordinadas adjetivas. Respeite o início indicado. Veja o exemplo:

            AQUELA DEVOTA CHEGOU TARDE. A devota não conseguiu entrar na igreja. Resposta: A devota que chegou tarde não conseguiu entrar na igreja.

(i) ESTAVA SENTADA SOBRE UMA PEQUENA MURALHA. Converti a pequena muralha em meu observatório.  Converti ...

(ii) A MORTE DAQUELE HOMEM MOBILIZOU A COMUNIDADE. Aquele homem era um trabalhador honesto. Aquele homem ...


Resposta:

a) É fato conhecido por muitos que Paulo Lins, escritor carioca, viveu na Cidade de Deus, onde se desenrola a trama de seu famoso livro.

b)
(i) Converti em meu observatório a pequena muralha sobre a qual estava sentado.
(ii) Aquele homem cuja morte mobilizou a comunidade era um trabalhador honesto.



  
5. (Fuvest)  Preciso que um barco atravesse o mar
lá longe
para sair dessa cadeira
para esquecer esse computador
e ter olhos de sal
boca de peixe
e o vento frio batendo nas escamas.
            (...)
            Marina Colasanti, "Gargantas abertas".

Gosto e preciso de ti
Mas quero logo explicar
Não gosto porque preciso
Preciso sim, por gostar.
            Mário Lago, <www.encantosepaixoes.com.br>

a) Nos poemas apresentados, as preposições "para" e "por" estabelecem o mesmo tipo de relação de sentido? Justifique sua resposta.
b) Sem alterar o sentido do texto de Mário Lago, transcreva-o em prosa, em um único período, utilizando os sinais de pontuação adequados.


Resposta:

a) Não. "Para" dá ideia de finalidade e "Por" dá ideia de causa.

b) Gosto e preciso de ti, mas quero logo explicar: não gosto porque preciso; preciso sim, por gostar.




TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
PENSAR É VIVER

            Não tenho nenhuma receita, nenhum facilitador para se entender a vida: ela é confusão mesmo.
            A gente avança no escuro, teimosamente, porque recuar não dá. Nesse labirinto a gente encontra o fio de um afeto, pontos de criatividade, explosões de pensamento ou ação que nos iluminem, por um momento que seja. Coisas que nos justifiquem enquanto seres humanos.
            Tenho talvez a ingenuidade de acreditar que tudo faz algum sentido, e que nós precisamos descobrir - ou inventá-lo. Qualquer pessoa pode construir a sua "filosofia de vida". Qualquer pessoa pode acumular vida interior. Sem nenhuma conotação religiosa, mas ética: o que valho, e os outros, o que valem para mim? O que estou fazendo com a minha vida, o que pretendo com ela?
            Essa capacidade de refletir, ou de simplesmente aquietar-se para sentir, faz de nós algo além de cabides de roupas ou de ideias alheias. Sempre foi duro vencer o espírito de rebanho, mas esse conflito se tornou esquizofrênico: de um lado precisamos ser como todo mundo, é importante adequar-se, ter seu grupo, pertencer; de outro lado é necessário preservar uma identidade e até impor-se, às vezes transgredir, para sobreviver.
            Discernir e escolher fica mais difícil, porque o excesso de informações nos atordoa, a troca de mitos nos esvazia, a variedade de solicitações nos exaure. Para ter algum controle de nossa vida é necessário descobrir quem somos ou queremos ser - à revelia dos modelos generalizantes.
            Dura empreitada, num momento em que tudo parece colaborar para que se aceitem modelos prontos para servir. Pensamento independente passou a ser excentricidade, quando não agressão. Família, escola e sociedade deviam desenvolver o distanciamento crítico e a capacidade de avaliar - e questionar - para poder escolher.
            Mas, embora a gente se pense tão moderno, não é o que acontece. Alunos (e filhos) questionadores podem ser um embaraço. Preferimos nos tornar membros da vasta confraria da mediocridade, que cultua o mais fácil, o mais divertido, o que todo mundo pensa ou faz, e abafa qualquer inquietação.
            Por sorte nossa, aqui e ali aquele olho da angústia mais saudável entreabre sua pesada pálpebra e nos encara irônico: como estamos vivendo a nossa vida, esse breve sopro... e o que realmente pensamos de tudo isso - se por acaso pensamos?
LUFT, Lya. Pensar é transgredir. Rio de Janeiro: Record, 2004. pp 177-78



6. (G1 - cp2)  Leia o primeiro parágrafo do texto:

"Não tenho nenhuma receita, nenhum facilitador para se entender a vida: ela é confusão mesmo."

a) Que conjunção ou locução conjuntiva poderia substituir os dois pontos sem que o sentido fosse alterado?
b) Que valor semântico, ou seja, que significado apresentam tanto os dois pontos quanto a conjunção/locução conjuntiva que os substitui?


Resposta:

a) Porque.
b) Apresentam valor semântico de causa.



  
7. (Unicamp)  Foi no tempo em que a Bandeirantes recém-inaugurara suas novas instalações no Morumbi. Não havia transporte público até o nosso local de trabalho, e a direção da casa organizou um serviço com viaturas próprias. (...) Paraná era um dos motoristas. (...)
Numa das subidas para o Morumbi "fechou" sem nenhuma maldade um automóvel. O cidadão que o dirigia estava com os filhos, era diretor do São Paulo F.C., e largou o verbo em cima do pobre do Paraná. Que respondeu à altura. Logo depois que a perua chegou ao Morumbi, todo mundo de ponto batido, o automóvel para em frente da porta dos funcionários, e o seu condutor desce bufando: "Onde está o motorista dessa perua? (e lá vinha chegando o Paraná). Você me ofendeu na frente dos meus filhos. Não tem o direito de agir dessa forma, me chamar do nome que me chamou. Vou falar ao João Saad, que é meu amigo!"
E o Paraná, já fuzilando, dedo em riste, tonitruou em seu sotaque mais que explícito: " 'Le' chamei e 'le' chamo de novo... veado ... veado ..." Não houve reação da parte ofendida.
            (Flávio Araújo, "O rádio, o futebol e a vida". São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2001, p. 50-1).

a) Na sequência "(...) e largou o verbo em cima do pobre do Paraná. Que respondeu à altura", se trocarmos o ponto final que aparece depois de 'Paraná' por uma vírgula, ocorrem mudanças na leitura? Justifique.
b) O trecho da resposta de Paraná "Le chamei e le chamo de novo ..." chama a atenção do leitor para a sintaxe da língua. Explique.
c) Substitua 'tonitruou' por outra palavra ou expressão.


Resposta:

a) A vírgula seria mais adequada que o ponto final, pois não ocorre o encerramento do período, visto que a última palavra da frase limitada pelo ponto (Paraná) é retomada pelo pronome relativo que.

b) O "le" da fala do Paraná é uma variante do pronome "lhe".

c) Gritou, clamou em altos brados.



  
8. (Fuvest)  I. Desespero meu: leitura obrigatória de livro indicado...
II. Uma surpresa: tão bom, aquele livro!
III. Nenhum aborrecimento na leitura.

a) Respeitando a sequência em que estão apresentadas as três frases acima, articule-as num único período. Empregue os verbos e os nexos oracionais necessários à clareza, à coesão e à coerência desse período.
b) Transcreva o período abaixo, virgulando-o adequadamente:
A obrigação de ler um livro como toda obrigação indispõe-nos contra a tarefa imposta mas pode ocorrer se encontrarmos prazer nessa leitura que o peso da obrigação desapareça.


Resposta:

a) Desespero meu: leitura obrigatória de livro, no entanto foi uma surpresa, pois era muito bom aquele livro, cuja leitura não causou nenhum aborrecimento.

b) A obrigação de ler um livro, como toda obrigação, indispõe-nos contra a tarefa imposta, mas pode ocorrer, se encontrarmos prazer nessa leitura, que o peso da obrigação desapareça.



  
9. (Fgv)  Nas frases abaixo, em cada um dos parênteses, você pode colocar ou não um sinal de pontuação. Quando decidir usar ponto, não é necessário corrigir, com letra maiúscula, a palavra seguinte.

            Habituada a alardear previsões catastróficas(__) nem sempre confirmadas(__) a Organização Mundial de Saúde(__) OMS(__) resolveu promover(__) um tardio acerto de contas(__) com as conquistas(__) forjadas no interminável duelo da humanidade(__) contra a morte(__) o relatório anual da entidade(__) divulgado neste mês(__) conclui o seguinte(__) "a população mundial(__) nunca teve uma perspectiva(__) de vida tão saudável(__) o século XXI não traz simplesmente a probabilidade de uma vida mais longa(__) mas também(__) uma qualidade de vida superior(__) com menos doenças(__)"


Resposta:

Habituada a alardear previsões catastróficas [_] [,] nem sempre confirmadas [,] a Organização Mundial de Saúde [,] OMS [,] resolveu promover [_] um tardio acerto de contas    [_] com as conquistas [_] forjadas no interminável duelo da humanidade [_] contra a morte [.] o relatório anual da entidade [,] divulgado neste mês [,] conclui o seguinte [:] "a população mundial [_] nunca teve uma perspectiva [_] de vida tão saudável [.] [;] o século XXI não traz simplesmente a probabilidade de uma vida mais longa [,] mas também [_] uma qualidade de vida superior [,] com menos doenças [.]"



  
10. (Ita)  Leia o texto seguinte:

            Levantamento inédito com dados da Receita revela quantos são, quanto ganham e no que trabalham OS RICOS BRASILEIROS QUE PAGAM IMPOSTOS. (...)
            Entre os nove que ganham mais de 10 milhões por ano, há cinco empresários, dois empregados do setor privado, um que vive de rendas. O outro, QUEM DIRIA, é servidor público. ("Veja", 12/7/2000.)

a) A ausência de vírgula no trecho em destaque, no primeiro parágrafo, afeta o sentido? Justifique.

b) Por que o emprego da vírgula é obrigatório no trecho em destaque, no segundo parágrafo? O que esse trecho permite inferir?


Resposta:

a) Sim, pois com a ausência de vírgula faz-se a seguinte leitura: "são todos os ricos brasileiros e todos eles pagam impostos". Com a presença da vírgula, tem-se que somente dos ricos brasileiros que pagam impostos".

b) No trecho "quem diria" é obrigatório o uso da vírgula, pois funciona como uma intromissão do jornalista; uma expressão de surpresa diante de fato inusitado.